A desigualdade das vacinas contra COVID-19 se torna ‘mais grotesca a cada dia’, diz chefe da OMS

A diferença crescente entre o número de vacinas oferecidas nos países ricos e as administradas por meio da COVAX está se tornando “mais grotesca a cada dia”, afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nesta segunda (22).
“Em janeiro, eu disse que o mundo estava à beira de um fracasso moral catastrófico, a menos que medidas urgentes fossem adotadas para garantir a distribuição igualitária de vacinas”, disse o chefe da OMS a jornalistas em coletiva de imprensa.
“Temos meios para evitar este fracasso, mas é alarmante o pouco que foi feito para evitá-lo”, acrescentou, ressaltando que a OMS tem trabalhado “dia e noite para encontrar soluções para aumentar a produção e distribuição igualitária de vacinas”.??
"Falsa sensação de segurança"
O chefe da OMS apontou que enquanto alguns países estão vacinando toda a sua população, outros não têm as doses.
“A distribuição desigual de vacinas não é apenas um absurdo moral, é também econômica e epidemiologicamente contraproducente”, disse ele, ressaltando que algumas nações estão vacinando pessoas mais jovens de baixo risco à custa de “profissionais de saúde, idosos e outros grupos de risco em outros países”.
E porque mais transmissões significam mais variantes, o chefe da OMS defendeu que o desequilíbrio nas vacinas apenas dá “uma falsa sensação de segurança”, pois “quanto mais variantes surgirem, mais provável é que escapem às vacinas”.
“Enquanto o vírus continua circulando em qualquer lugar, as pessoas continuarão morrendo, o mercado e as viagens continuarão sendo prejudicados e a recuperação econômica será ainda mais postergada”, explicou.
Na última sexta, a OMS organizou uma reunião sobre o aprimoramento do sequenciamento genômico do coronavírus para monitorar melhor sua evolução diante das muitas mutações que estão gerando preocupação internacional.
O diretor-geral da OMS disse que, mesmo sabendo quando, como e onde o vírus está evoluindo é uma informação vital, isto é de uso limitado se os países não trabalharem juntos para suprimir a transmissão “em todo lado ao mesmo tempo”.
“Se os países não compartilharem as vacinas pelos motivos certos, apelamos a eles que o façam pelo próprio interesse”, disse.
Compromisso de igualdade da AstraZeneca
Tedros também informou aos jornalistas que havia conversado com fabricantes de vacinas sobre como aumentar a produção, incluindo o CEO de uma AstraZeneca, fabricante das vacinas Oxford-AstraZeneca que foram temporariamente suspensos por um grupo de países, principalmente da Europa, em meio a preocupações a respeito das estatísticas sobre coagulação do sangue.
Alemanha, França, Itália e Espanha estão entre os que começaram a usar a vacina novamente após garantias dos principais órgãos reguladores. Na segunda-feira (22), um grande estudo nos Estados Unidos, Chile e Peru supostamente apresentou que a vacina foi 79% eficaz na prevenção da doença e 100% eficaz contra sintomas graves e hospitalização.
“Estes dados são uma evidência adicional de que a vacina Oxford-AstraZeneca é segura e eficaz”, disse Tedros.
Ele sinalizou que a AstraZeneca é “a única empresa que se comprometeu a não lucrar com sua vacina da COVID-19 durante a pandemia” e a única desenvolvedora de vacina que fez uma contribuição significativa para a equidade da vacina, “licenciando sua tecnologia para várias outras empresas”. Isso inclui a Coréia e a Índia, cujos fabricantes estão produzindo mais de 90% das vacinas distribuídas pela COVAX.
Compartilhando a tecnologia da vacina
“Precisamos que mais produtores de vacinas sigam esse exemplo e licenciem sua tecnologia para outras empresas”, reforçou o chefe da OMS.
Ele observou que, há um ano, a Costa Rica e a OMS lançaram um mecanismo denominado Acesso Conjunto a Tecnologias contra a COVID-19 ou C-TAP, projetado precisamente para promover um “modelo de ciência aberta”, onde o licenciamento ocorreria “de forma não exclusiva, de forma transparente, para impulsionar a capacidade de fabricação tanto quanto possível. Até agora, o C-TAP continua sendo uma ferramenta altamente promissora, mas subutilizada”.
Novamente, ele argumentou que embora a OMS e os parceiros possam projetar e defender soluções para salvar vidas, “precisamos que todos os países e todos os fabricantes trabalhem conosco para que isso aconteça”.
Fonte: Nações Unidas Brasil