ECONOMIA

Bancos -mais fusões?

Os bancos brasileiros estão se preparando para uma onda de consolidações após a fusão, ocorrida nesta semana, do Itaú e do Unibanco, para criar o maior banco da América do Sul.
O Brasil tem cerca de 150 bancos, muitos dos quais são pequenos protagonistas do setor, concentrados em uma única linha de negócios, como os financiamentos de automóveis ou os empréstimos vinculados a pagamento de salários, áreas que cresceram rapidamente em sintonia com o aumento do emprego e dos salários. "Os bancos menores têm experimentado um crescimento de 30% a 40% ao ano", afirma Ceres Lisboa. "Isto acabou. Eles terão que se reinventar".
Dezenas desses bancos menores serão comprados ou obrigados a se retrair em nichos de mercado.
O Banco do Brasil, o banco do governo federal que era o maior do país antes da mais recente fusão no setor, e o Bradesco, que até então era o maior banco privado, deverão correr atrás de aquisições na tentativa de recuperar o domínio perdido.
As consolidações serão auxiliadas pelas recentes medidas do governo no sentido de injetar liquidez no sistema bancário à medida que a crise financeira global se desenrola. O processo deverá também transcorrer de forma ordenada, já que o sistema bancário brasileiro continua sólido, graças aos níveis de empréstimo relativamente baixos e ao fato de pouco crédito ser obtido no exterior.
No mês passado, um decreto presidencial permitiu aos bancos públicos comprar títulos em outras instituições financeiras, e em outras companhias que estão em dificuldades devido à contração do crédito.
Mais de R$ 100 bilhões (US$ 45,7 bilhões) das taxas de recolhimento compulsório, que são incomumente elevadas no Brasil – e que obrigam os bancos a manter cerca de 30% dos seus depósitos no banco central -, foram liberados para encorajar empréstimos e financiar compras de carteiras de empréstimos dos bancos menores pelos maiores.
No último dia 6 o governo anunciou ter fornecido R$ 4 bilhões para apoiar os grupos de financiamento de automóveis: bancos administrados por companhias automobilísticas que emprestam aos compradores de carros, e que têm enfrentado grandes dificuldades na área de financiamento.
Porém, um problema para os rivais do Itaú e do Unibanco é o fato de ter restado poucos bancos no mercado. O Banco do Brasil prepara-se para comprar a Nossa Caixa, que pertence ao Estado de São Paulo, por um valor que deverá ficar entre R$ 6 bilhões e R$ 10 bilhões. E o Bradesco tem sido bastante aconselhado a comprar o Banco Votorantim ou outro banco de dimensão intermediária. Nenhum dos dois negócios representaria grande ameaça para os novos líderes. Ceres Lisboa, analista do setor bancário em São Paulo na Moody's, a agência internacional de classificação de crédito, afirma que uma fusão entre o Bradesco e o novo Itaú Unibanco é improvável, pelo menos até o ano que vem. O Bradesco terá também que competir com o banco resultante da recente fusão do Santander e do ABN Amro. Emílio Botin, diretor-executivo do grupo, esteve em São Paulo na semana passada para anunciar a sua intenção de tornar o seu banco o maior do Brasil dentro de três anos.
A recente queda nos preços de equities tornou o momento atual propício para tais negócios. Embora o Itaú e o Unibanco insistam que estão se aglutinando, os termos do acordo revelam que o Itaú adquiriu o Unibanco por cerca de 1,1 vezes o valor nominal – um quarto do que teria pago um ano atrás.
André Esteves, ex-diretor do banco de investimento UBS Pactual, que atualmente dirige o BTG, uma empresa global de investimentos e de administração de ativos, afirma que a sua companhia está no mercado para comprar um banco bem administrado de mercado intermediário.

Jonathan Wheatley / Finalcial Times

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