POLÍTICA

O fator câncer

É difícil os políticos assumirem a doença, muito menos em público e durante uma campanha eleitoral. Mas a ministra Dilma Rousseff acredita que pode vencer esse estigma e convencer os eleitores de que tem condições de disputar a sucessão de Lula
Em poucas áreas de atuação o estigma de uma doença pesa tanto como na política. Ao revelar que passa por um tratamento contra um linfoma, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , aceitou se expor a uma dose dupla desse preconceito. Como se não bastasse estar doente, Dilma ousou assumir que sofre de câncer em plena pré-campanha à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, mesmo em seu ato de coragem, no sábado 25, a ministra preferiu usar os termos "linfoma" ou "essa doença". Segundo especialistas em marketing eleitoral ouvidos por ISTOÉ, depois de ganhar a confiança de Lula e vencer as resistências dentro do PT e entre os partidos da base governista, agora Dilma terá que superar o que poderá ser o seu maior obstáculo: o estigma político da doença.
"A saúde da ministra passará a ser permanentemente questionada, antes e durante uma eventual campanha, até porque um diagnóstico defi nitivo só pode ser dado em dois anos", avalia o cientista político Antonio Lavareda. "Ao mesmo tempo que a doença humaniza a candidata, a torna mais vulnerável porque vai sempre suscitar a interrogação na cabeça das pessoas sobre se ela tem condições de assumir o País." A primeira sessão de quimioterapia da ministra está prevista para o dia 9. Durante quatro meses, o procedimento será repetido a cada três semanas. Como o seu organismo irá reagir ao tratamento é uma incógnita.
No Brasil, é tradição os políticos esconderem uma doença grave antes das eleições. Tancredo Neves, por exemplo, escondeu até o fi m a existência de um tumor, devido ao impacto que a palavra câncer poderia provocar à época. De forma dramática, a doença o impediu de assumir a Presidência da República.
O tucano Mário Covas, que morreu em 2001 com câncer na bexiga, afirmou que descobriu a doença depois de reeleito governador de São Paulo, em 1998. Muitos políticos ainda passam por tratamentos de quimioterapia em sigilo absoluto.
"Não conheço caso em que o fato de a pessoa ser doente a ajude a vencer eleição. Pelo contrário", disse à ISTOÉ o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra.
"Câncer não ajuda ninguém. É melhor não ter", afirma o ministro de Comunicação Social do governo, Franklin Martins.
Istoé independente

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