Dois milhões de brasileiros sofrem de fobia no trânsito

Diferentes posturas e comportamentos são facilmente identificados em condutores de veículos. Eles podem percorrer o mesmo trajeto, demorar o mesmo tempo presos em engarrafamentos, dirigir veículos iguais e, mesmo assim, terem sensações distintas ao dar a partida.
Entre tantos perfis, um em especial merece atenção: aqueles que têm pânico ao dirigir, encarando essa atividade corriqueira como um momento de pressão e estresse.
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), dois milhões de brasileiros não dirigem por medo. As mulheres são a maioria e somam 75% desse número.
A Perkons ouviu uma especialista no assunto para entender melhor o que faz tantas pessoas vivenciarem esse temor.
A jornalista Fernanda Jashchenko Circhia, de 25 anos, é um desses casos. Antes de começar a dirigir, acreditava que seria uma motorista feliz. Tirou carteira aos 19 anos e a expectativa era alta. "Eu adorava fazer as aulas práticas na autoescola.
Estava empolgada e continuei a dirigir por dois meses, sem problemas, depois que tirei o documento", relembra.
No entanto, um episódio tirou Fernanda da "rota". Ela perdeu o controle do veículo na garagem do prédio onde morava e acabou batendo na parede. "Isso me traumatizou.
Fiquei me sentindo muito mal, frustrada com a situação. Depois da batida comecei a dirigir com muito medo, desde a hora de tirar o carro na garagem.
Era uma atividade que eu gostava e que começou a se tornar muito chata e percebi que tenho medo do trânsito, de bater em alguém, de que alguém bata em mim, de causar estragos", desabafa.
Neuza Corassa estuda o assunto há 20 anos e é autora do livro "Vença o medo de dirigir". Ela diz que esse tipo de transtorno atinge, em geral, pessoas extremamente responsáveis. "Elas são confiáveis, detalhistas e sensíveis.
Apresentam um alto grau de exigência consigo mesmas e se preocupam com os outros. Comumente, imagina-se que quem tem medo de dirigir não domina o carro. Isso pode ser em parte verdadeiro, mas não é tudo.
O que atormenta grande parte dos fóbicos da direção é a fobia social, que corresponde ao medo da desaprovação do outro", conta Neuza.
Síndrome do carro na garagem
A psicóloga classifica as pessoas que sofrem de transtornos no trânsito em três grupos. No primeiro estão aqueles que nunca se aprovam.
Eles possuem habilitação, mas, apesar da chancela, o elevado grau de exigência pessoal os impede de se sentirem aptos a dirigir.