ECONOMIA

Jejum de carne na quaresma vira raridade e comércio de peixe não decola nas mercados

A Igreja Cristã Católica continua seguindo a risca o período litúrgico de preparação com a quaresma, primeiro dos três ciclos pascais, porém, fiéis no Brasil tem ‘modernizado’ suas crenças por conta própria e a quase unânime prática do passado de não comer carne nos quarenta dias de retiro que antecedem a festa pascal é tão rara hoje em dia que até mesmo em comunidades religiosas é difícil encontrar membros que a realizam irrestritamente desde a quarta-feira de cinzas até o domingo de ressurreição de Jesus Cristo.
Apesar de não ser um indicador fiel, a comercialização de peixes, substituto quase que automático da carne pela maioria das pessoas, não têm sofrido um acréscimo considerável em suas vendas há muito tempo em período quaresmal, segundo atestam os principais varejistas de Rondonópolis. Na reportagem especial desta semana, o Folha Regional visitou três dos principais supermercados da cidade e constatou a realidade. Até mesmo em estoque, os empresários não têm investido tanto como outrora e poucas são as variedades de pescado que se agregam no período especial do catolicismo.
A jovem Bruna Demiciano, de 22 anos, católica e membro de uma comunidade religiosa, disse que já fez no passado o jejum de carne durante a quaresma. No entanto, adquiria o produto no supermercado na última semana quando foi abordada pela reportagem. Ela tem uma argumentação prática para justificar a queda da tradição. “Eu fiz há dois anos atrás um jejum de carne, agora eu faço jejum de qualquer alimento nas quartas e sextas-feiras até o meio dia durante a quaresma inteira. Eu acho que o preço alto do peixe atrapalha muito. A pessoa prefere jejuar de uma outra coisa que não a carne e por isso está acabando”, analisou.
Preço do Peixe
Em referência ao que disse Bruna, o Regional fez um levantamento sobre algumas das espécies mais comuns e conhecidas da população, embora não sejam as mais baratas. O Tambaqui eviscerado (vendido inteiro) foi encontrado no mercado A de Rondonópolis ao custo de R$ 9,99 o kg. No estabelecimento B o preço se manteve igual e no varejista C houve um leve aumento no custo, indo para R$ 10,99. Apesar de não ser o peixe mais bem avaliado pelo gosto popular, o custo médio do Kg desta espécie ainda representa mais economia do que comprar um KG de Coxão Mole ou Patinho, cortes intermediários da carne bovina.
Por outro lado, opções de pescados mais ‘famosas’ que o Tambaqui apresentam ao consumidor um preço salgado. O Camarão descascado chega a ser comercializado a R$ 48,90 por 500 gramas. A mesma quantidade de filé de Salmão sai a R$ 35,00. Já o filé da Tilápia, que vem ganhando força no mercado mato-grossense sai em média por R$ 30,00 o Kg, enquanto que o pintado eviscerado é comercializado a R$ 23,29 para o consumo do rondonopolitano. Se o pedido for só do filé do requisitado pintado, o preço sobe um pouco e vai para cerca de R$ 30,00 por Kg. Em relação a outra opção requintada da quaresma, o bacalhau, a reportagem registrou o custo de R$ 56,98 pelo Kg da espécie norueguês e em outro mercado o preço é maior ainda: R$ 61,98.
O diretor de Marketing de uma rede de supermercados de Rondonópolis, Thiago Luis Sperança, afirmou que já alguns anos que não se muda drasticamente o planejamento da empresa em virtude da quaresma. “A venda de carne não muda, segue no mesmo ritmo normal. Talvez na última semana da quaresma, na semana santa, é que cresce as vendas de peixe. Do contrário seguimos a mesma rotina”, testemunhou, reforçando a informação da pouca incidência do jejum.
Também na fila para comprar carne, o professor Flávio Trovão, opinou ideologicamente sobre o jejum e justificou como católico sobre porque não adere mais a prática. “Eu já fui adepto e fiquei sem comer carne, mas hoje não acredito mais. Vejo que a ideia do sacrifício não encaixa com isso. Acho que ficou meio deslocada esta prática. Quanto ao peixe, não sei dizer sobre o preço porque não consumo, já que não se encontra fresco e só têm congelados nesta região. Prefiro seguir com a carne vermelha”, finalizou.
A redação

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