Greve dos Correios em Mato Grosso mobiliza trabalhadores e acende alerta nacional

A greve dos Correios em Mato Grosso já é uma realidade e começa a gerar impactos diretos em consumidores, empresas e no próprio funcionamento da estatal. Desde a última quarta-feira (17), funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) cruzaram os braços por tempo indeterminado, em protesto contra a falta de um acordo coletivo, reajuste salarial e o que classificam como retirada de direitos históricos da categoria.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Mato Grosso (Sintect-MT), cerca de 700 profissionais ativos no estado aderiram integralmente ao movimento. A paralisação não se restringe ao território mato-grossense: trabalhadores de outros oito estados Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também participam da greve, ampliando a pressão sobre a estatal.
O momento chama atenção. A deflagração ocorre às vésperas do Natal, período em que a demanda por entregas cresce de forma exponencial, impulsionada pelo comércio eletrônico e pelas compras de fim de ano.
A greve dos Correios tem como pano de fundo o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), instrumento que garante direitos conquistados ao longo de décadas pelos trabalhadores da estatal. A data-base da categoria é agosto, e as negociações, segundo o sindicato, começaram ainda em julho, sem avanços concretos.
De acordo com o Sintect-MT, o governo federal tem proposto alterações no ACT que resultariam em redução de direitos, o que acirrou o conflito. Entre os pontos considerados sensíveis estão benefícios históricos que, na visão dos trabalhadores, são essenciais para compensar as condições de trabalho e a defasagem salarial acumulada.
Para o diretor do sindicato em Mato Grosso, Everaldo Nunes, o impasse não é recente. Ele afirma que o governo vem adiando as negociações sem apresentar soluções efetivas, criando um ambiente de insegurança para os funcionários da estatal.
Atualmente, a greve atinge nove estados brasileiros, evidenciando um movimento de caráter nacional. Em Mato Grosso, a adesão foi total, segundo o sindicato, com paralisação de todas as atividades operacionais.
Já os Correios, por meio de nota oficial, informaram que todas as agências seguem abertas e que as entregas continuam sendo realizadas em todo o país. A empresa afirma que cerca de 91% do efetivo nacional permanece em atividade, minimizando os impactos imediatos da greve.
Ainda assim, consumidores relatam atrasos e incertezas, especialmente em regiões onde a adesão ao movimento foi mais expressiva. Com o aumento sazonal de encomendas no fim de ano, qualquer instabilidade logística tende a gerar reflexos rápidos na economia e no comércio.
Apesar do endurecimento da greve, o sindicato afirma que a categoria segue aberta ao diálogo. Segundo Everaldo Nunes, novas rodadas de negociação podem ocorrer até a próxima terça-feira (23).
O dirigente reforça que o movimento não tem como objetivo prejudicar a população ou pressionar o governo pelo período natalino. “Não foi a categoria que escolheu esse momento. Ele é consequência da falta de resposta”, afirmou.
A greve acontece em meio a um grave cenário financeiro enfrentado pelos Correios. A estatal acumula prejuízos bilionários e busca alternativas para reequilibrar suas contas.
O Ministério da Fazenda analisa um pedido de empréstimo com garantia da União, que pode chegar a R$ 12 bilhões, como parte de um plano de recuperação financeira da empresa.
Mesmo diante da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou qualquer possibilidade de privatização dos Correios. Segundo ele, o caminho é a recuperação da estatal, possivelmente por meio de parcerias, mas mantendo o controle público.
Enquanto trabalhadores cobram valorização e respeito ao acordo coletivo, o governo tenta encontrar soluções para uma empresa em crise financeira profunda. O diálogo será decisivo para evitar prejuízos maiores à economia e à população.
Fonte: Da Redação



