Indigenistas fazem paralisação e cobram governo sobre desaparecimentos na Amazônia

Após o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, não ter cumprido ultimato dado até as 18h de ontem, os servidores do órgão decidiram entrar em paralisação por 24 horas nesta terça (14). As declarações feitas por Xavier, de que o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira se encontravam em áreas não autorizadas na Amazônia, provocaram indignação por parte da categoria, que exigiu uma retratação. Os colegas do indigenista desaparecido agendaram um ato de protesto para as 9h em frente ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) respondeu que Bruno Araújo Pereira tinha licença para entrar em território indígena antes do desaparecimento na Amazônia. De acordo com os servidores, não houve, portanto, qualquer irregularidade na conduta de Bruno, que estava afastado do órgão. Portanto, as declarações do presidente da Funai são difamação.
“Ressaltamos que a retratação pública deve conter o reconhecimento das inverdades e criminalização relatadas publicamente sobre o servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira, UNIVAJA e servidores da Coordenação Regional do Vale do Javari”, diz o texto.
“Igualmente, considerando que não há quaisquer irregularidades legais na conduta do servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira, bem como servidores da CR-VJ e representantes da UNIVAJA, a retratação deve admitir os equívocos de falsas argumentações sem nenhum embasamento legal dentro da política indigenista brasileira”, continua a entidade.
Em carta enviada a Marcelo Xavier, os indigenistas exigem também o envio imediato das forças de segurança pública para assegurar a integridade física dos que atuam lotados nas Bases de Proteção do Vale do Javari – Quixito, Curuçá e Jandiatuba, bem como as sedes das CRs do Vale do Javari e CFPE-VJ, região onde Bruno e Dom desapareceram.
No documento, eles também cobram o imediato envio de força-tarefa para apoio aos servidores e às atividades das CRs Alto Solimões e Vale do Javari, bem como da FPE-V. Os indigenistas alertam que, desde o começo do incidente, que começou dia 5 e agora tem despertado repúdio internacional crescente, os trabalhadores estão sozinhos para desempenhar suas funções – e apesar da ameaça também crescente de violência real.
A decisão de iniciar o movimento pela ausência de retratação do presidente da Funai foi tomada em assembleia realizada ontem à tarde por servidores de entidades que representam a categoria: Indigenistas Associados (INA), Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef), Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal (Sindsep-DF) e Confederação dos Trabalhadores no serviço Público Federal (Condsef). As entidades exigem ainda que o governo tenha agilidade nas buscas aos desaparecidos.
RBA