Mais de 70% dos atendimentos no Nilmo Júnior são de vítimas de acidentes com motos

Apesar de somarem menos de 40% dos mais de 200 mil veículos registrados em Rondonópolis, as motos estão envolvidas em mais de 80% dos acidentes e respondem por cerca de 70% do número de vítimas de traumas atendidos no Centro de Fisioterapia Nilmo Júnior – o maior da região sudeste de Mato Grosso. Junto à imprudência, a negligência e à imperícia, o problema é agravado pela falta de consciência no trânsito.
Um levantamento da Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito (Setrat) feito com base nos números do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) mostra que após uma leve queda em 2020, causada pelas restrições relacionadas à pandemia, o número de acidentes voltou a crescer no ano passado e segue em alta neste ano. São cerca de 10 ocorrências por dia e em pelo menos oito delas há motociclistas envolvidos.
As colisões entre carros e motos estão no topo da lista. Só no primeiro semestre do ano passado elas responderam por 525 dos 1.432 registros de acidentes no período. Na sequência vêm as quedas e as colisões entre motos.
Quando somadas ocorrências como o choque em postes e árvores, batidas em veículos pesados e atropelamento de pedestres e ciclistas, os acidentes envolvendo motos totalizaram mais de 82% dos registros na primeira metade do ano passado. E a tendência é de que isso se repita neste ano.
“Há casos em que o motociclista está certo, mas muitas vezes eles agem com imprudência e desrespeitam a legislação. Não tem carteira de habilitação, excedem a velocidade e se arriscam em manobras perigosas”, diz o secretário de Trânsito, Lindomar Alves.
“Infelizmente o para-choque da moto é o corpo do motociclista e do passageiro. O resultado, infelizmente, a gente vê nas unidades de Saúde”, completa ele.
O secretário disse que já foram realizadas várias campanhas de orientação, mudanças nas vias públicas e reforço de sinalização. “A falta de um pátio de apreensão e o número reduzido de agentes impedem uma fiscalização maior, gerando um sentimento de impunidade. Mas já estamos resolvendo isso com investimentos na fiscalização eletrônica. Em breve teremos novidades”, afirma ele.
RECUPERAÇÃO LONGA
A fisioterapeuta Gabriela Lira Siqueira vive diariamente o outro lado desta rotina. Há dois anos ela integra a equipe do Centro de Reabilitação Nilmo Júnior, que tem outros nove fisioterapeutas, além de psicólogos nutricionistas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e fonoaudiólogos – entre outros profissionais.
O Centro é mantido pelo município e atende gratuitamente pacientes encaminhados pelas unidades de Saúde. O público é formado por portadores de patologias crônicas, idosos e pessoas que buscam se recuperar de lesões repetitivas ou acidentes domésticos. Mas a maioria dos atendimentos é mesmo de pessoas vítimas de acidentes com motos.
“Só no período da tarde temos diariamente cerca de 40 pacientes e 70% deles sofreram acidentes com motos. Quase todos são jovens, tem no máximo 40 anos”, lamenta.
O processo de recuperação é lento e demorado. Os pacientes precisam de pelo menos 20 sessões de fisioterapia, as dez primeiras só para quebrar a rigidez dos membros atingidos.
“São duas sessões por semana e o objetivo é garantir que o paciente recupere os movimentos normais. Se isso não acontece, ele é encaminhado novamente ao ortopedista e depois volta para reiniciarmos o processo’, explica.
Gabriela diz que desde meados do ano passado tem notado um crescimento no número de pacientes que buscam o Centro para se recuperar de lesões causadas em acidentes com motos. Ela revelou que já perdeu amigos em acidentes assim e acredita que a situação poderia ser diferente se houvesse mais consciência de todos.
“Infelizmente falta muito respeito ao próximo. Os motociclistas, os motoristas, todos nós precisamos compreender que a segurança no trânsito é responsabilidade de todos”, afirma.
“Vivemos um quadro caótico e isso não tem a ver com o número de veículos ou com as condições das vias. O poder público pode fazer todos os investimentos, mas se não houver consciência as tragédias continuarão se repetindo”, alerta a fisioterapeuta Gabriela
Eduardo Ramos – Da Redação