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Moradores da década de 60 visitam Casario, falam da Rondonópolis de antigamente e exaltam família Cury

Maria de Lourdes Dantas, 75, morou com quatro filhos e o marido, Albino Saldanha Dantas, de 1961 a 1962 em uma das tradicionais residências de três peças do Casario, um dos símbolos do início da urbanização de Rondonópolis e que na época pertencia a família Cury. Um pouco mais novo, Osvaldo Barbosa de Lima, o ‘Bacaré’, atualmente com 57, chegou na cidade mais tarde e viveu no local de 1969 a 1975. Na última semana, a convite do Folha Regional, os dois fizeram uma emocionada visita ao residencial que os recebeu quando haviam acabado de chegar na então nova cidade; ele vindo de Brasília com o pai, mãe e os irmãos, e ela do estado de Minas Gerais, onde havia morado por pouco tempo depois que casou e veio com o marido do nordeste.
Lourdes olhava parte da parede de barro conservada de uma das casas quando lembrava o custo de um mil réis para morar um mês no local. Sem o conforto que se tem hoje, mas com muito mais calor humano, a idosa ressalta que era normal a troca de alimentos entre os moradores e nem mesmo a ocasião de todo mundo ter que usar o mesmo banheiro fazia com que o desentendimento tomasse conta entre um e outro. “Eu tenho lembranças boas porque não tinha essa correia que tem hoje. Todo mundo vivia calmo e as pessoas se ajudavam. Na minha época, ainda não haviam construído aquele monte de banheiro e era um só para todo mundo, mas havia respeito que era o mais importante. Se faltava açúcar a gente pedia para o vizinho e quando ele pedia arroz a gente dava. Essa falta de segurança que tem hoje era uma coisa que nem passava pela cabeça da gente”, afirmou.
Bacaré diz que apesar de ter chego em Rondonópolis com nove anos, indo passar alguns dias em uma das únicas duas pensões que tinha na época, a Minas Goiás, para depois vim passar seis anos com a família no Casario, ele se considera totalmente rondonopolitano de coração. Depois de acompanhar tantas décadas passando com nomes fazendo a história da cidade e dias sendo marcados de maneira positiva e negativamente na vida das pessoas, o antigo morador diz sentir uma injustiça com o reconhecimento geral pelo que fez a família Cury. “Era cobrado para morar aqui, mas esta família, na minha opinião, que foram os verdadeiros fundadores de Rondonópolis. Assisto as sessões da Câmara, os noticiários da TV e vejo um monte de gente ganhando moção de aplauso em Rondonópolis e outras homenagens e eles não são reconhecidos da maneira que deveriam. Isto é triste porque não é valorizado a historia real de Rondonópolis. Contam muita história, mas a verdade é outra”, lamenta Bacará que se diz amigo pessoal até hoje do Moisés filho.
Sentados em um dos vários bancos que chegaram junto a um processo de investimento e revitalização feito pelo atual prefeito Percival Muniz, Lourdes e Bacaré lembram que a cheia do Rio Vermelho era extremamente devastadora e tinha o poder de mudar a realidade das pessoas que moravam ali: “A gente subia as coisas para cima da casa porque a água vinha sem piedade mesmo”, relembrou Bacará. Lourdes conta que era normal ter que sair por um tempo das casas nos períodos chuvosos. “Meu cunhado, que morava nas primeiras casas, tinha que sair de casa mesmo, até que o rio baixasse. Não tinha o que fazer”, falou.
Lourdes lembra que teve de sair um ano logo após a sua chegada no Casario porque o marido rapidamente conseguiu emprego do outro lado do rio, onde havia uma chácara das mesmas freiras que eram as responsáveis da época pela escola Sagrado Coração de Jesus, que funciona até hoje e onde os filhos estudavam. Apesar da rápida passagem, ela conta que o acolhimento que recebiam as pessoas ali talvez era o principal motivo que fizeram as pessoas gostarem e muitas delas continuarem até hoje em Rondonópolis. “A maioria das pessoas que moravam ali, assim como foi meu caso, era gente que vinha de longe e chegado recentemente. Não tinha muita coisa na cidade, tinha muito mato ao redor, mas era gostoso porque tinha muita criança, as pessoas recebiam bem uma as outras, então acho que isto fazia quem chegava se sentir em casa”, relata Lourdes.
Osvaldo riu quando se lembrou de algumas diferenças gritantes entre a realidade de do século passado e de agora. “A gente vinha do rio com aquela fieira de peixe, ali devia ter uns quatro quilos, mas ia vender para quem? Era peixe demais. Eu entrava no bota com meus amigos, o bote abaixava e peixe pulava dentro do barco, agora isto é difícil acreditar hoje em dia. Me lembro também de quando começou a surgir a Coophalis e eu disse para o meu pai comprar um terreno lá e ele falou: o que eu quero fazer lá no meio daquele mato? Agora quanto custa um terreno lá hoje?”, indaga.
Ambos disseram uma curiosidade: não fazia tanto calor em Rondonópolis nos anos 60, o que para Lourdes tem uma simples explicação. “Cortaram as árvores e não cuidaram da natureza. O progresso é bom, mas perdemos a paz e algumas outras coisas ”, finalizou.

Da Redação
Hevandro Soares

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