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Comercial Rio Negro: Uma bela história de pai para filho

O jovem Marcus Humberto Richard Rodrigues Ribeiro Tosta, de 33 anos de idade, é proprietário e principal responsável administrativo pelo Comercial Rio Negro, localizado na Avenida Bandeirantes e um dos mais tradicionais do segmento da mercearia de Rondonópolis. O estabelecimento escreve sua história de existência há 50 anos no Município, sendo 13 deles com Marcus no comando. Mas o que fez então um jovem de 18 anos assumir uma responsabilidade tão grande de ser o ‘cabeça’ do negócio da família? Um triste, mas ao mesmo tempo belo roteiro escrito pelo destino.
João Ribeiro Tosta, pai de Marcus, era um dos muitos aventureiros que nos anos 60 saia dos principais centros econômicos do Brasil e vinha se aventurar em Mato Grosso, vendendo para o povo nativo e para os novos moradores que vinham de todas regiões do Brasil, qualquer tipo de produto da linha doméstica. João e seus irmãos, cansaram de fazer o trajeto de Ribeirão Preto a Rondonópolis lotados de mercadoria de lá para cá, retornando lotados de sucata recolhida aqui para vender lá.
A dificuldade encontrada nas viagens e o potencial de crescimento e de vendas encontrados em terras mato-grossenses, fizeram os jovens empreendedores se atentarem para a possibilidade de virarem empresários na nova cidade. O Comercial Rio Negro, nasceu com este mesmo nome há cerca de um quarteirão de distância de onde é hoje, mas também situado na Bandeirantes. Apesar do investimento feito, as viagens para Ribeirão Preto seguiam a todo vapor e a maioria da família ainda seguia morando no estado de São Paulo.
Rondonópolis, porém, havia conquistado o coração de João, que decidiu adotar a nova terra como lugar para criar seus filhos. Nascido na nova cidade, Marcus conta que sempre nutriu admiração pelo pai, mas confessa que na juventude o seu gosto pelo trabalho não era lá dos maiores. “Eu só vinha no comércio do meu pai buscar dinheiro, trabalhava muito pouco para dizer que ajudava ele, como deveria ser”, lembra.
Em 2001, a vida trouxe a Marcus e a família Tosta um abalo imensurável: João falecia de maneira inesperada, deixando o destino da família e do principal ganha pão, o comercial Rio Negro, incertos. Mas a dor da perda do seu progenitor, fez o jovem Marcus de uma hora para outra transformar-se em um empresário de sucesso. Assumir e continuar passando confiança à freguesia já conquistada por João foi um desafio, conforme lembra o atual proprietário. Porém, a necessidade de manter o legado e fazer valer a história do pai falaram mais alto para ele.
“Aqui no Comercial Rio Negro sempre houve esta relação muito próxima com o cliente, de amizade realmente. E isto não foi eu quem implantei. Tem gente que chega aqui e num momento nostalgia lembra de 20 ou 30 anos atrás, onde ele comprava aqui, ai conta um acontecimento e isto é muito legal. Eu sigo esta linha de ter uma conversa mais calorosa mesmo, oferecer um café ou um tereré, até porque é assim que eu consigo o meu diferencial. Não adianta eu querer encarar os grandes mercados de frente. É desleal, não tem como”, ressalta Marcus.
Outra característica conservada nos 50 anos de história do Rio Negro, além do atendimento, é a maneira de comercialização dos produtos. Cereais, por exemplo, e vários outros itens são vendidos de maneira in natura no quilo a quilo, como tradicionalmente ocorria no passado. O modelo de pesagem do estabelecimento se digitalizou recentemente e até poucos anos atrás o comércio contava com um balanceiro profissional, que também era um dos grandes poetas da história da cidade: Valdir Xavier.
“O Valdir era o braço direito do meu pai e acabou sendo muito importante também na minha história. Ele foi certamente um segundo pai para mim e tenho certeza que teria muito mais dificuldade para conseguir chegar até onde estou hoje se não fosse ele. A experiência dele, os nortes que me dava e a segurança que eu sentia nele foram fundamentais para o negócio continuar seguindo em frente”, reconhece Marcus.
Há dois anos, Valdir que já estava aposentado, mas ainda seguia trabalhando ao lado de Marcus, deu o segundo grande baque na vida de Tosta. “Ele tinha sido diagnosticado com câncer, mas a gente nunca imagina que vai ocorrer o pior. Um dia ele me disse que ia parar de trabalhar e ir casa para morrer porque não estava aguentando mais. Eu até disse para ele ‘pelo amor de Deus não dizer uma coisa dessa’, mas infelizmente isto acabou se confirmando pouco tempo depois”, lamenta o empresário.
Como homenagem ao principal funcionário da história do comércio, que torceu o nariz e ficou emburrado por meses quando Marcus comprou a balança digital, um poema de Valdir com sua imagem estão gravados no fundo do estabelecimento, local exato onde por mais de duas décadas trabalhou o poeta. “Eu consegui fazer esta homenagem em vida para ele. Hoje é legal olhar para cá e lembrar dele”, sacramentou Tosta, com um sorriso no rosto.

Hevandro Soares
Da Redação

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