Cândido Borges Leal, o ‘Candinho’: um dos prefeitos mais lembrados da história

O único paulista e farmacêutico que comandou Rondonópolis em toda sua história, Cândido Borges Leal, o ‘Candinho’, até hoje tem seu nome facilmente lembrado até mesmo por quem não viveu a época de seu mandato, que iniciou em 1973 e foi até 1976. A originalidade do nome Candinho, no entanto, não é a única explicação da popularidade do político histórico, que foi o sexto homem a ser eleito prefeito de Rondonópolis, mas sim a forma com que conduziu sua vida, seus negócios, a relação com os amigos e o futebol, além da intensidade que amou o próximo e sua família.
Nascido em Pirajuí, uma promissora cidade que fica a menos de 100 quilômetros dos importantes municípios de Marília e Bauru, no rico estado de São Paulo, coragem foi o que nunca faltou para Candinho e os seus irmãos Elzio e Nelson. Mesmo morando no lugar que ficou conhecido como o maior centro cafeeiro do planeta, em meados do século XX, a vontade dos três jovens em desbravar novas terras falou mais alto. Em cima de um caminhão, praticamente transportaram uma farmácia completa para Rondonópolis. Os medicamentos e móveis chegaram e fizeram história. A farmácia Santa Terezinha, dos irmãos Borges Lealna Marechal Rondon, foi a primeira da Terra de Rondon.
Em entrevista ao Folha Regional, a esposa de Candinho, Ana Dehemica Luz Borges Leal, considera que o senso de humanidade do marido frente a farmácia foi crucial para sua chegada à política. “Ele definitivamente não tinha horário para atender ninguém. Como não tinha médico naquela época como tem hoje, qualquer enfermidade que acontecia na família o pessoal procurava era o farmacêutico e ele entendia esta responsabilidade. Jamais houve da parte dele uma relação profissional com as pessoas, era algo mais pessoal mesmo. Ele se preocupava e isto o tornou muito popular, o que o levou a política”, lembra Aninha, como é carinhosamente conhecida.
A atual secretária de Educação de Rondonópolis e primeira dama da cidade, Ana Carla Muniz, é filha de Candinho, e considera que a militância popular local tenha iniciado com a história do pai. Apesar de ter orgulho da trajetória política do progenitor, Ana ressalta as relações familiares e o carinho que recebeu de Candinho ao relatar as emoções que a faz lembra-lo. “Quando eu tive meus primeiros filhos, eu tinha leite, mas não conseguia amamentar. Lembro dele todo cuidadoso me ajudando a fazer a extração, o que normalmente seria papel da mãe fazer. Acontece que o carinho dele era tanto que ele tomava a frente e fazia questão de ajudar”, relembra Muniz.
Já sobre seu tempo a frente da prefeitura, a viúva detalha que enquanto prefeito Candinho sabia absolutamente tudo o que estava ocorrendo na cidade. “Ele era daqueles que acordava bem cedo e antes de se dirigir até a prefeitura passava pessoalmente em todas as obras que estavam sendo feitas. Quando chegava para trabalhar já ia direto cobrar os responsáveis. Então realmente não dava para enganá-lo. Para ele, ser prefeito era uma missão que ele agarrou muito forte”, diz Aninha.
Se por um lado enérgico, Candinho foi quem instituiu uma sopa (merenda) para trabalhadores de serviços diversos da cidade na época, o que atualmente é demanda atendida pela Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis – Coder. As chamadas obras humanas que o político fez enquanto prefeito, deram a ele uma simbologia de ‘paizão’, algo que foi confirmado no dia de sua morte, segundo lembra a filha. “Creio que ficou provado para todos nós o tanto que ele cuidava das pessoas no dia do seu velório. A quantidade de gente que apareceu foi realmente confortador”, ressalta Ana Carla.
‘ADVERSÁRIO’ DE PERCIVAL
A filha ainda lembra que com a efervescência política oriunda do período ditadura, a sua união com o atual prefeito Percival Muniz teve que transpassar uma barreira: o pai era do Arena II, partido adversário ao MDB, onde Muniz militava. “Nunca houve uma rixa entre os dois, Percival ia em casa e tudo mais, mas realmente eles eram de lados opostos da política. Mas depois que eles viraram sogro e genro de fato as coisas se acalmaram de vez”, brinca Ana Carla.
Entre as principais obras de Candinho, muitas delas foram para a área da educação com construção de escolas, como a Albino Saldanha Dantas na Vila Goulart, que serviu especificamente para atender as crianças que moravam do outro lado do rio e que sem a ponte hoje existente eram obrigados a atravessar o Rio Vermelho rotineiramente de canoa para estudar. O ex-prefeito também foi o responsável pela pavimentação asfáltica de boa parte do quadrilátero central, além de ter sido em sua gestão que foi aberta e inaugurada a avenida Presidente Médici. Apesar de todas estas deliberações, Candinho, que deixou a vida em 1996, fez questão de deixar outro legado na lembrança das pessoas.
“Outros políticos até se apossaram do asfalto que ele fez no centro e disseram que eram eles que tinham feito, mas eu acho que o principal que ficou dele foi mesmo este amor que ele tinha por Rondonópolis e pelas pessoas. Ele jogava futebol, adorava se reunir com os amigos, amava os filhos, sobrinhos e a família toda. Ele gostava de gente”, finalizou Aninha, que viveu 33 anos ao lado do marido.
Além de Ana Carla, Candinho teve mais dois filhos: Gina Borges Leal e Rogério Borges Leal.
Da Redação – Hevandro Soares