ECONOMIA

Guerra na Ucrânia encarece produção em MT e pode causar crise sem precedentes

A produção agrícola neste ano não deve ser afetada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, mas o setor já sente os efeitos e teme prejuízos severos nas próximas safras com o prolongamento do conflito. A situação deve atingir todo o país, com impacto um pouco diferente em Mato Grosso – que é o maior produtor nacional de grãos.

O Brasil importa 85% dos fertilizantes utilizados nas lavouras e boa parte vem da Rússia e da Bielorrúsia, que estão impedidas de comercializarem o produto devido às sanções impostas pela Europa e Estados Unidos. Em Mato Grosso os produtores são bem posicionados tecnologicamente e costumam antecipar a compra de insumos. Isso deve atenuar o impacto negativo, mas não nos torna imunes.

“Essa safra que está encerrando agora foi plantada com os preços de adubo do ano passado, então não sentimos o impacto. Mas a próxima safra de soja, que começa a ser plantada em outubro, e de milho (no ano que vem), já terá preços de adubos majorados. Certamente haverá uma inflação nos custos”, diz Osvaldo Pasqualoto, que há mais de 40 anos atua como produtor rural.

Na verdade os preços já começaram a subir. Os últimos levantamentos apontam um aumento médio de 20% a 30%, mas em alguns produtos o custo dobrou. “A Uréia, que pagávamos 500 dólares/tonelada, agora passou de mil dólares”, diz Pasqualoto.

MUDANÇAS

A alta é impulsionada também pela elevação do preço do óleo diesel, que encareceu os fretes. Mas, além da inflação, há ainda o risco de faltar produtos no mercado. Para evitar isso os principais conselhos envolvem a antecipação das compras e mudanças nas técnicas de produção para otimizar o uso dos fertilizantes.

Josimar Lessa, que é doutor na área e pesquisador em solos e sistemas de produção da Fundação MT, ressalta a importância dos produtores buscarem informações para tomar decisões corretas. Conforme ele, nas lavouras com bom histórico de adubação é possível recalibrar o uso de fertilizantes como o fósforo e o potássio. Mas é preciso cuidado.

“Não se recomenda a redução total desses elementos numa ou mais safras consecutivas, uma vez que o agricultor poderá ficar em situação de grande vulnerabilidade no futuro devido ao esgotamento desses nutrientes no solo. Isso afetaria drasticamente a produtividade”, alerta.

O pesquisador disse que a Fundação MT, maior instituição dedicada ao estudo e desenvolvimento agrícola do Centro Oeste, está prestando orientações nos Dias de Campo e outros eventos de difusão tecnológica realizados nas principais cidades do Estado.

“Estamos ao lado do agricultor para ajudá-lo na melhor decisão, oferecendo serviços de pesquisa e consultoria. Também incentivamos que procurem um bom engenheiro agrônomo para estar bem amparado”, diz Josimar em artigo publicado nesta edição.

PAZ

Entre os empresários que atuam no mercado de fertilizantes o clima é de apreensão. Com experiência de 35 anos na área, o empresário Miguel Weber diz que a crise envolve muitos fatores e, dependendo do prolongamento, pode ter conseqüências drásticas para a agricultura brasileira e a produção de alimentos no mundo.

“Nas décadas anteriores vivemos pelo menos três crises acentuadas, mas esta é a mais complexa. As outras permitiam um pouco mais de gestão, não dependia tanto do mercado internacional. Agora é tudo diferente”, afirma.

Conforme Weber, a antecipação das compras pelas empresas de fertilizantes deve evitar prejuízos maiores nas próximas safras (22/23 e 23/24). A avaliação é que o aumento dos custos é inevitável, até porque setores como o de transporte por navegação já aumentaram os valores do frete no período de pandemia e mantém os preços em patamares elevados.

O risco maior é quanto à possibilidade de faltar fertilizantes nas safras seguintes. Assim como as outras pessoas ouvidas na reportagem, Miguel Weber considera positivo o plano lançado pelo Governo Federal visando buscar outros fornecedores e diminuir a dependência externa. Mas ele ressalta que esse é um processo longo e que quanto mais tempo durar a guerra maior será os riscos.

“Vamos imaginar que hoje se feche um acordo de paz, vai demorar no mínimo 120 dias para desinstalar minas e normalizar o tráfego naval. Tem o desmonte da guerra, que é um problema que também pode interferir no fornecimento dos produtos. Acho que precisamos trabalhar para que Rússia e Ucrânia encontrem a paz. Se o conflito perdurar teremos uma crise global sem precedentes”, concluiu.

 

Eduardo Ramos – Da Redação

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