POLÍTICA

Psicóloga diz que mentirosos podem ser curados; já psicólogo explica a raiz deste comportamento

No último dia 1° de abril muita gente aproveitou para sair contando causos aos quatro ventos, preocupando e apavorando próximos com o clássico dizer seguinte: hoje é o Dia da Mentira. Mas será que é só nesta data quando inverdades modificam quadros sociais e alteram vidas profissionais, familiares e amorosas? Para os psicólogos atuantes em Rondonópolis Cleiton Venceslau e Ísis Caroline de Melo Sá, a mentira é tão natural para a raça humana que é possível afirmar que não exista sequer uma pessoa no mundo que não tenha faltado com a verdade quando a conveniência pedia. Ambos falaram a reportagem do Folha Regional, sendo que ela acredita em cura deste mau, enquanto Cleiton considerou as causas da mentira.
Especializada em atender crianças, já a partir dos oito anos de idade, Ísis comenta que este grupo talvez seja o mais difícil para se lidar ou para identificar um desvio de realidade, tamanha a empolgação que assumem nas palavras a contar algum fato. “O ser humano mente desde pequeno, ocorre que a criança tradicionalmente mente muito. Como esta mundo de imaginação para ela é quase tão real que se confunde com a realidade, ela repassa informações com a mesma verdade nos olhos que contaria algo que recentemente acabou de ocorrer. A abordagem então feita seja por um psicólogo ou mesmo os pais com esta faixa etária tem de ser muito cuidadosa”, ressalta.
Segundo Ísis, os ‘ bons’ resultados conseguidos na infância por meio da mentira, certamente fará com que esta pessoa cresça se utilizando deste artifício e se torne um adulto mentiroso. “A insegurança é um mau que também pode levar a criança a mentir. Imagine uma criança que foi abusada sexualmente e recebe desta pessoa ameaças constantes que se contar algo irá apanhar. Certamente ela omitirá o fato e se questionada irá mentir. Neste caso, a mentira surge como uma fuga a criança para que não seja punido. Esta ideia tende a acompanhar a pessoa por toda a vida e piorar se não tratada”, pontuou.
Para a profissional, partindo da primícia que a insegurança pode ser minimizada com um tratamento terapêutico, é possível afirmar que o mentiroso compulsivo pode sim ser curado. “Como a mentira está para aquela pessoa como a principal válvula de escape desde a infância, um bom tratamento pode mostrar a este paciente que há outras maneiras de encarar o fato. Se esta pessoa adquirir mais autoconfiança em solucionar as próprias demandas e ficar mais centrada, o nível de mentira cairá porque a verdade vai bastar. Ela terá coragem de encarar a verdade. Mas é o que sempre falo aos pacientes: a terapia tem de ser feita em cima da verdade. Se a pessoa mente ao psicólogo o tratamento será baseado na mentira, logo não terá efeito”, frisou.
Cleiton, assim como Ísis, apontou o ponto de surgimento da mentira na vida das pessoas como uma deficiência pessoal em se relacionar com os problemas e a necessidade de se enaltecer quando a vida não o colocou onde queria. “A mentira é uma opção das pessoas frente aquilo que as incomoda. Como é muito mais fácil esquivar-se da situação do que encará-la é logo explicado porque a mentira é tão usada. Mas de uma maneira geral, pode-se classificar este comportamento como uma falta de habilidade das pessoas em lidar com situações mais complexas, mas certamente preferencial. As pessoas optam por mentir”, disse.
O especialista diz que não há como dizer quais fatores externos possam contribuir mais para a formação de um mentiroso. “Existe algo chamado de aprendizagem por referência. O mais comum destes casos é o filho que nota a atitude do pai e inconscientemente a copia. Isto pode ser que ocorra com a mentira, mas cada caso é um caso. Todos as relações sociais podem influenciar, assim como traumas podem ser outra causa, mas o mais perigoso é que a mentira pode sim rapidamente se tornar patológica e ser um sintoma que pode denotar desvios de caráter de um portador do transtorno de personalidade antissocial (psicopata)”, externa.
Sobre a polêmica questão de quem mente mais: o homem ou a mulher, Cleiton disse que não há como generalizar. “Não podemos dizer que o brasileiro mente mais que outras culturas, até porque elas também usam a mentira. Pode ser que em cada caso ela adapte-se a característica inerentes aquele povo, podendo ser mais ou menos aceita, mas em linhas gerais é inerente ao ser humano. Da mesma forma, não dá para classificar em gêneros ao dizer que o homem mente mais para a mulher que vice e versa. Mesmo assim, dá para se dizer que a mulher quando mente faz isso com mais competência”, brincou.

Hevandro Soares – Da Redação

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