Destaques das revistas semanais

CartaCapital
O dossiê do dossiê do dossiê…
No modorrento feriado de Corpus Christi, os leitores dos jornais foram inundados com informações sobre uma trama que envolveria a fabricação de dossiês contra o candidato tucano à Presidência, José Serra, produzidos por gente ligada ao comitê da adversária Dilma Rousseff. O time de espiões teria sido montado pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável pela contratação de funcionários para a área de comunicação da campanha petista. O primeiro desses documentos seria um relatório sobre as ligações de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB, com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Uma história tão antiga quanto os dinossauros e já relatada inúmeras vezes na última década, inclusive por CartaCapital.
A notícia sobre o suposto dossiê, que ninguém sabe dizer se existe de fato, veio a público em uma reportagem confusa da revista Veja e ganhou lentamente as páginas dos jornais durante a semana até ser brindada com uma forte rea-ção do PSDB e de Serra. Na quarta-feira 2, o pré-candidato tucano acusou Dilma Rousseff de estar por trás da “baixaria” e cobrou explicações. A petista disse que a acusação era uma “falsidade” e o presidente do partido, José Eduardo Dutra, informou que a cúpula da legenda havia decidido interpelar Serra na Justiça por conta das declarações.
Os boatos sobre a fábrica de dossiês parecem ser fruto de uma disputa interna entre dois grupos petistas interessados em comandar a estrutura de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, um ligado a Lanzetta, outro ao deputado estadual Rui Falcão. A origem dessa confusão era, porém, desconhecida do público, até agora. CartaCapital teve acesso a parte do tal “dossiê” que gerou toda essa especulação. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado com 14 capítulos intitulado Os Porões da Privataria, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
O livro descreve com minúcias o que seria a participação de Serra e aliados tucanos nos bastidores das privatizações durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. É um arrazoado cujo conteúdo seria particularmente constrangedor para o pré-candidato e outros tantos tucanos poderosos dos anos FHC. Entre os investigados por Ribeiro Jr. estão também três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Está sendo produzido há cerca de dois anos e nada tem a ver com a suposta intenção petista de fabricar acusações contra o adversário. É essa a origem das informações sobre a existência do tal “dossiê” contra a filha de Serra. E a razão de os tucanos terem lançado um ataque preventivo às informações que constam do livro.
Veja
Agaciel, um candidato ficha-limpa… É muita cara de pau!
O ex-datilógrafo Agaciel Maia é um personagem-chave da crise que sacudiu o Senado no ano passado. Diretor-geral da instituição durante catorze anos, Agaciel perdeu o cargo quando se descobriu que era dono de uma mansão, avaliada em 5 milhões de reais, nunca declarada à Receita Federal. A casa, soube-se depois, era apenas um detalhe em sua biografia. Agaciel era o principal operador da máquina que produzia contratos superfaturados e nomeava funcionários-fan-tasma, por meio de atos secretos, em benefício de um seleto grupo de políticos. Seu poder era tão incontrastável que, mesmo sendo um mero burocrata, era tratado como o 82° senador.
Apesar dos escândalos em que estava me-tido, Agaciel conservou o emprego de servidor e o salário de 23 000 reais. Mas não ficou totalmente satisfeito. Agora, depois de um ano de recolhimento, o ex-diretor está decidido a entrar de vez no mundo da política – universo que, em duas décadas de convivência com o poder, aprendeu a conhecer como poucos. Tratando-se de Agaciel Maia, o risco de isso acabar dando certo para ele não é desprezível.
As negociações em torno do novo projeto estão adiantadas. Agaciel já decidiu que disputará um mandato pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), sigla que elegeu o ex-deputado Clodovil Hernandes em 2006. Só está em dúvida em relação ao cargo. Sua ideia inicial era eleger-se deputado federal no Rio Grande do Norte, onde cresceu e de onde saiu há quase quatro décadas. Mas, diante do alto risco e do custo elevado, seria uma aventura temerária mesmo para alguém impetuoso como ele. O mais provável é que dispute uma das 24 cadeiras da Câmara Distrital de Brasília, cujos parlamentares se no-ta-bilizaram por esconder propinas em lugares exóticos, como meias. O PTC estima que seu mais novo candidato possa conquistar cerca de 10 000 votos. Seu sistema propulsor seria formado por servidores do Senado – casta que Agaciel sempre privilegiou e da qual é uma espécie de ídolo. "É a minha turma", confirma o ex-diretor.
Dilma Rousseff: Lula já transfere votos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende se consagrar como o maior craque da história do Brasil. A promessa de Garanhuns estreou bem nos rachões do sindicalismo, brilhou no primeiro time do Partido dos Trabalhadores e foi vice três vezes – até que, em 2002, jogando no melhor estilo paz e amor, conseguiu mostrar a qualidade do seu futebol e se tornar presidente da República. De lá para cá, sua carreira vem subindo velozmente ao Olimpo onde pairam os mitos brasileiros. Apesar de ter sofrido uma breve má fase há cinco anos, quando flagraram metade do seu time no antidoping do mensalão, ele encontrou perseverança para ser bicampeão em 2006.
Nos últimos tempos, embalado pelo relativo sucesso de programas sociais do governo e pelo bom momento da economia, Lula atingiu seu ápice: 80% dos brasileiros aprovam seu futebol. É no auge da era Lula, portanto, que se aproxima a copa da política brasileira: a eleição presidencial. Nela, como não pode concorrer, o presidente deveria atuar apenas como técnico da novata Dilma. Lula, porém, não tem nada de Dunga – e entrou em campo com tudo, dando diariamente chapéus na Justiça Eleitoral, carrinhos nos adversários e preciosos passes para a sua camisa 9.
Até o momento, o presidente, vá lá que sem muito fair play, está levando o time nas costas. Desde o fim do ano passado, quando Lula passou a jogar com afinco, Dilma vem crescendo lentamente nas pesquisas. A tal ponto que, nas últimas semanas, as sondagens mais confiáveis, como a do instituto Datafolha, indicaram um empate entre ela e o candidato tucano, José Serra. Ambos aparecem com 37% das intenções de voto – em dezembro, a petista aparecia com 26%, e o peessedebista flanava com 40%. Não há dúvida de que o crescimento da candidata petista se deve ao presidente, nem dúvida há de que ele será o dínamo político da campanha.
A população gosta do presidente e está satisfeita com suas próprias condições de vida. Até março do ano passado, Dilma, apesar de ocupar o poderoso cargo de chefe da Casa Civil, era conhecida superficialmente por somente 53% dos brasileiros. À medida que foi sendo apresentada por Lula ao eleitorado, seja em discursos televisivos, seja em desavergonhados eventos eleitorais país afora, Dilma cresceu e apareceu, conquistando votos na mesma proporção em que se tornou conhecida. No jargão dos marqueteiros, isso se chama transferência de votos. Na linguagem do futebol, resume-se ao talento de Dilma para se posicionar na banheira e receber os passes de Lula. Somente no decorrer da campanha, contudo, será possível descobrir se a camisa 9 do PT sabe fazer gols, transformando intenções em votos.
Centrais sindicais em campanha por Dilma
Era para ser um "encontro de sindicalistas". Mas o que se viu na última terça-feira no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, foi um gigantesco comício político ilegal financiado com dinheiro público. A pretexto de reunirem filiados para aprovar propostas a ser enviadas aos candidatos à Presidência da República, cinco centrais sindicais lotaram um estádio de futebol com o objetivo de propagandear a candidatura da petista Dilma Rousseff.
Diante das quase 20 000 pessoas que ocupavam as arquibancadas, sindicalistas e dirigentes do PT se revezaram ao microfone: "O Brasil não pode ter retrocesso", bradava o presidente do PT paulista, Edinho Silva, referindo-se à possibilidade de o PSDB vencer as eleições. "Nossa maior responsabilidade é não permitir a volta daqueles que implementaram políticas neoliberais nos anos 90", emendava o presidente da CUT, Artur Henrique. Não que os sindicalistas não tenham o direito de escolher e defender o candidato de sua preferência. Têm, sim. Mas não com o dinheiro do contribuinte, como foi o caso do comício organizado por CUT, Força Sindical, CTB, CGTB e Nova Central.
PSDB e PT trocam acusações sobre as ações dos “aloprados”
Na semana passada, VEJA revelou a existência de um grupo que se reunia dentro do comitê eleitoral do PT, em Brasília, com a missão de espionar adversários e integrantes do próprio partido. A notícia estremeceu as relações até então amigáveis entre os principais atores ligados à campanha presidencial. O PSDB anunciou que pretende convocar para depor no Congresso os personagens que tentaram montar uma rede de espionagem onde funciona o comitê de comunicação da pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff.
"Haverá um acirramento", avisou Eduardo Jorge, vice-presidente executivo dos tucanos. Já os petistas correm em sentido oposto, tentando pôr um ponto final à discussão. "Não fomos nós que colocamos esse assunto absurdo em pauta. Esse tipo de debate não interessa ao país", afirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Na sexta-feira passada, em entrevista a VEJA, o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa revelou detalhes que ajudam a dimensionar com maior exatidão o que se planejou nos subterrâneos do comitê petista – forçando uma intervenção direta do comando da campanha com ordens expressas de parar com tudo.
Apontado como o chefe do grupo de espionagem, o policial garante que sua atuação se restringiu a uma reunião de planejamento. O que foi proposto, segundo ele, era inaceitável. Em carta a VEJA, ele reafirmou que divergia "cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a ser ali executados".
O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para es-pionar adversários e petistas rivais?
Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury (Ribeiro), o Benedito (de Oliveira, responsável pela parte financeira) e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou. Havia problemas de metodologia e direcionamento do trabalho que eles queriam.
Como assim?
Primeiro, queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe. Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o deputado Marcelo Itagiba.
Que tipo de investigação?
Era para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos telefônicos…
Pediram ao senhor para grampear os telefones do ex-governador Serra?
Explicitamente, não. Mas, quando me disseram que queriam saber tudo o que se falava, ficou implícita a intenção. Ninguém é capaz de saber tudo o que se fala sobre alguém sem ouvir suas conversas. Respondendo objetivamente, é claro que eles queriam grampear o telefone do ex-governador.
Lula abriu 68 novas representações
O Arquipélago de São Cristóvão e Névis, no Caribe, é um paraíso para poucos. Tem praias de águas translúcidas, relevo desenhado pela atividade vulcânica e uma população que não ultrapassa 55 000 habitantes. Vive do turismo, atraindo europeus e americanos com seus resorts cinco-estrelas e campos de golfe à beira-mar. Ali foi constituída uma das mais recentes embaixadas brasileiras. Desde o ano passado, o país possui um embaixador em Basseterre, a capital do arquipélago. Sem escritório definitivo, o diplomata despacha de sua suíte do Marriott, na Frigate Bay
Essa é uma das 68 representações diplomáticas, entre embaixadas e consulados, que foram abertas desde 2003. Sob Lula e sua pretensão de ampliar a participação brasileira na diplomacia internacional, o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, tornou-se uma das pastas mais valorizadas no Planalto. Não se pouparam recursos na contratação de diplomatas, na melhoria de seus salários e também na abertura de representações. O Brasil possui atualmente embaixadas em 133 nações.
A maior parte dessas novas representações foi aberta em países pequenos e pouco relevantes no cenário político e econômico mundial, quase todos ex-comunistas, nações africanas paupérrimas ou ilhotas caribenhas. São lugares como Albânia e Coreia do Norte, esta uma das nações mais fechadas do planeta; os africanos Benin e Togo; ou Dominica, Bahamas e Santa Lúcia, no Caribe. Por trás dessa multiplicação global dos "itamaratecas" (como são apelidados os alunos formados pelo Instituto Rio Branco, a escola pública de diplomatas) há um misto de ideologia e ambição do governo brasileiro.
Pela cartilha da diplomacia, a instalação de representações no exterior se justifica pelos interesses econômicos em jogo, pelo papel geopolítico ou pela presença de uma grande comunidade de imigrantes. Nada disso parece fundamentar as decisões recentes do governo. Explica o especialista em relações internacionais Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington: "Esse aumento do número de embaixadas se deve às prioridades da atual política externa. Uma delas é o incentivo ao relacionamento com os emergentes, em detrimento dos desenvolvidos. Outra é a vontade do país de possuir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas".
Época
A volta de Palocci
Em fevereiro, logo após a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, despontar em alta nas pesquisas, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel passou a ser apontado por colegas de partido como forte candidato a “futuro chefe da Casa Civil do governo Dilma”. A despeito da longa distância que separa a expectativa de vitória desses petistas de um êxito nas urnas em outubro, a “nomeação” servia para ilustrar o grau de amizade entre Dilma e Pimentel – e a influência dele na campanha dela. Ambos se conhecem há quatro décadas.
No mês passado, Dilma voltou a subir nas pesquisas e, pela primeira vez, empatou com seu principal adversário, José Serra (PSDB), na liderança. Desta vez, no entanto, Pimentel, o único coordenador da campanha petista ao Planalto indicado diretamente por Dilma, está em posição menos confortável. Nas projeções futuras ou de poder na campanha, Pimentel foi eclipsado pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, colocado na campanha a mando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um exímio arrecadador de recursos.
Quem contribuiu para destruir as pretensões de Pimentel foi, ironicamente, a equipe que ele próprio montou para comandar a estratégia de comunicação de Dilma. O jornalista Luiz Lanzetta, com folha corrida de serviços prestados a Pimentel, se afastou da chefia de comunicação da campanha na semana passada, depois de ter se envolvido na investigação de denúncias sobre os negócios da empresária Verônica Serra, filha de Serra, e numa desastrada operação para espionar adversários dentro da própria campanha do PT.
Serra responsabilizou Dilma por motar um “dossiê” contra ele, a exemplo do que ocorrera em 2006, no escândalo dos aloprados (nome que eternizou o episódio da compra pelo PT de denúncias contra Serra durante sua passagem pelo Ministério da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso). “A principal responsabilidade por esse novo dossiê é da candidata Dilma Rousseff. Disso eu não tenho dúvida, assim como o principal responsável pelo dossiê dos aloprados foi o Aloizio Mercadante (candidato ao governo de São Paulo em 2006)”, afirmou Serra na quarta-feira. Um dia depois, o PT anunciou que entrará na Justiça contra Serra.
Tradicional ou progressista?
Desde que assumiu a candidatura à Presidência pelo PV, Marina Silva despontou como uma possível terceira via numa disputa polarizada entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Autointitulou-se a portadora do discurso político do século XXI, aquele que conjuga sustentabilidade, conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico justo. Com essa plataforma e carisma (raridade na disputa presidencial), Marina virou a queridinha dos modernos, dos jovens de classe média das grandes metrópoles. Essa lua de mel foi abalada na semana passada quando Marina afirmou ser contra o casamento gay em entrevista ao portal UOL. Mais tarde, ela tentou explicar-se. Disse ser a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo. Só não acha que a união deva ser chamada de casamento. “Ela não quer usar o termo apenas por uma questão religiosa”, diz Alfredo Sirkis, coordenador de campanha de Marina.
Marina Silva é evangélica da Assembleia de Deus. Quando era católica, chegou a estudar para ser freira. A história religiosa explica algumas de suas posições, contrárias à legalização do aborto ou à descriminalização das drogas. Tais posturas são contraditórias com as do PV, conhecido por bandeiras como a descriminalização do usuário de drogas. A união do progressismo do PV com o tradicionalismo religioso de Marina é uma equação de difícil solução. “O partido tem posição avançada, e Marina conquistou jovens e minorias”, diz o analista político Gaudêncio Torquato. “Mas agora esse público está diante da dúvida: a candidatura dela é tradicionalista ou avançada?”
O tucano relutante
Se existe algo que provoca arrepios no ex-governador mineiro Aécio Neves, de 50 anos, é o quadro imenso que domina a sala de seu apartamento no bairro nobre de Anchieta, em Belo Horizonte. Assinada pelo conterrâneo Carlos Bracher, a tela mostra nuvens carregadas sobre a Praça dos Três Poderes. “Ai, ai, Brasília…”, diz Aécio, como se fosse refém de seu destino. Brasília é seu porto daqui para a frente, Minas Gerais ficou pequena. Candidato ao Senado, Aécio acaba de chegar de férias em dois paraísos na Itália – as aldeias da Toscana e as rochas da Costa Amalfitana. Viajou com a namorada, a modelo catarinense Letícia Weber, que tem a metade de sua idade e ele chama de Le: “Sou o último romântico, como diz Lula”.
Paciência. Essa é a maior virtude que Aécio diz ter aprendido com o avô Tancredo Neves. Não é difícil acreditar nele. Além de paciente, é sedutor. Bronzeado, bem-disposto, com o sorriso que faz uma covinha na bochecha direita, o governador mais bem avaliado do Brasil recebeu ÉPOCA em sua casa, na segunda-feira à noite. O suco de abacaxi com hortelã ficou mofando sobre a mesa. Ele falava sem colocar vírgula. De jeans, camisa azul para fora da calça, mocassim sem meia, Aécio balança sem parar as pernas cruzadas e gesticula muito. Tem a mania de prender a mão entre as pernas. O suor marca a cava da manga da camisa. Não parece nervosismo, porque olha no olho, não desvia do assunto. É inquietação mesmo. Malha quase todo dia, joga pelada uma vez por semana, corre. Detesta posar. “Naquela poltrona, não. É horrível.” Era uma poltrona de design, The Egg, do dinamarquês Arne Jacobsen. Ele preferiu a banqueta do bar.
Nos últimos dias, Aécio resistiu a pressões da opinião pública e do PSDB. Recusou-se pela enésima vez a ser vice de José Serra na eleição deste ano: “Pode cravar, chega dessa história”. Os tucanos bicaram e espernearam, mas o empate de Serra com Dilma Rousseff nas pesquisas não demoveu Aécio. “Eu era candidato a presidente. Achava que poderia atrair o PSB, o PDT e racharia o PMDB. Nunca fui candidato a vice, nem quando Serra tinha 20 pontos de vantagem sobre Dilma. Agora sou candidato ao Senado.” Promete ser o maior cabo eleitoral de Serra. Em Minas, nos programas da TV, nos palanques. Basta?
Ricardo Lewandowski: "Sou a favor da liberação da propaganda"
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, chegou à sede do Tribunal, em Brasília, para conceder esta entrevista a ÉPOCA depois de fazer exames médicos de rotina. Lewandowski se antecipou, pois terá pouco tempo disponível até outubro. Ele será o mais graduado responsável pelo cumprimento das regras em uma renhida disputa eleitoral. A quatro meses da eleição, o TSE já teve muito trabalho. Só o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi multado quatro vezes por infringir as regras. Diante das dificuldades para coibir a campanha antes do prazo legal de 5 de julho, Lewandowski afirma que a legislação eleitoral brasileira precisa mudar. “A campanha está nas ruas antes desse momento”, diz. “A meu ver, (proibir) se mostrou um tanto quanto irreal.”
O TSE tem aplicado muitas multas por campanha eleitoral antecipada. Está tudo normal?
A campanha se antecipou, e os partidos começaram a ingressar em juízo para punir uns aos outros. Muitos críticos entendem que essas multas são relativamente irrisórias, tendo em conta o volume de gastos das campanhas. Agora, é importante que se diga que o Poder Judiciário, sobretudo a Justiça Eleitoral, não cria as sanções. Não pode inventar uma determinada sanção a seu alvitre. Ele aplica a sanção que está na lei. Então, com a minirreforma eleitoral no Congresso, houve uma mitigação das sanções com relação à legislação anteriormente vigente. A minirreforma limitou as sanções no intervalo de R$ 5 mil a R$ 25 mil.
O senhor considera essas multas baixas?
As multas são aquelas que o Congresso estabeleceu. Não cumpre a mim, como juiz, achar se são altas ou baixas. A sociedade brasileira, por meio de seus representantes no Parlamento, é que tem de avaliar se essas multas são ou não efetivas para coibir as práticas que pretendem coibir. Agora, o cumprimento da lei é algo cultural. Nós precisamos estabelecer no Brasil uma cultura de cumprimento da lei.
Conflito de estilos
Desde que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal, em abril, o ministro Cezar Peluso deixou claras suas diferenças com o antecessor Gilmar Mendes. A mais notória é o silêncio. Enquanto Mendes se notabilizou por declarações – muitas vezes polêmicas – e pelo gosto pelo debate público, Peluso preza pela discrição. Peluso gosta de opinar apenas por meio de suas decisões. Recentemente, ficou claro que Peluso e Mendes têm também concepções bem diferentes sobre o funcionamento do Poder Judiciário. A principal delas diz respeito à atuação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Criado em 2004 na reforma do Judiciário, o CNJ funciona como uma corregedoria nacional do Poder Judiciário. Seu papel é ser o vigia do poder que, entre outras atribuições, julga a legalidade dos atos do Executivo e do Legislativo. Na gestão de Mendes, que começou sua carreira no Ministério Público, o CNJ realizou inspeções em tribunais, organizou mutirões para libertar presos que já haviam ultrapassado seu tempo na cadeia e reduziu ganhos de magistrados ao cortar adicionais salariais. Desde que assumiu o cargo, Peluso deixou claro aos 14 colegas que prefere um conselho voltado para a elaboração de políticas administrativas, levantamento de estatísticas e de orientação à magistratura. Uma clara mudança em relação aos rumos anteriores.
Pela transparência nos impostos
Na lista dos países com a maior carga tributária do planeta, o Brasil é um eterno campeão. Em nenhum outro país emergente – uma categoria na qual se incluem China, Índia, México e Argentina – paga-se tanto imposto quanto aqui. Só em 2009 o total de impostos pagos no país alcançou R$ 1,1 trilhão, o equivalente a 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Agora, em 2010, se as previsões se confirmarem, o Brasil deverá se superar mais uma vez e quebrar novamente o próprio recorde.
Na manhã do dia 2, o Impostômetro, uma ferramenta desenvolvida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que calcula em tempo real quanto os brasileiros pagam de impostos a cada ano, ultrapassou a marca dos R$ 500 bilhões. Neste ano, isso ocorreu 22 dias antes que em 2009. A previsão é que, até o fim de dezembro, o total de impostos chegue a R$ 1,24 trilhão, 13% a mais que no ano passado e quase o dobro do crescimento do PIB em 2010, estimado em cerca de 7%. “Esperamos que essa marca sirva para sensibilizar a população de que ela paga muito imposto”, afirma o vice-presidente da entidade, Guilherme Afif Domingos, ex-secretário do Trabalho do Estado de São Paulo.
Discutir para não calar
Antes de ocupar a Presidência da Bolívia, entre 2003 e 2005, Carlos Mesa trabalhava como jornalista e relatava os problemas de seu país, um dos mais pobres da América Latina, em rádios, jornais e TV. Na última terça-feira, ele participou, em São Paulo, do III Fórum de Liberdade de Imprensa e Democracia, promovido pelo Portal Imprensa, grupo especializado na cobertura de assuntos relativos aos meios de comunicação, e expôs as agruras dos jornalistas bolivianos no governo de seu sucessor, Evo Morales.
Principal palestrante do fórum, Mesa disse que os ataques à liberdade de imprensa na Bolívia não chegaram ao mesmo estágio da Venezuela, onde o governo do presidente Hugo Chávez cassou a concessão de emissoras de televisão para calar vozes críticas. Mas chamou a atenção para os atos de hostilidade do governo Morales com o objetivo de “neutralizar a imprensa”. “Num evento recente, o presidente Evo Morales chamou um jornalista ao palco e o constrangeu, dizendo que a reportagem escrita por ele estava errada”, disse Mesa.
IstoÉ
Os sonhos de Marina
A pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, é dona de uma história pessoal que emociona pelo passado e entusiasma pelo presente. Nascida pobre num seringal na zona rural do Acre, jamais deixou de acreditar em seus sonhos e de persegui-los. Foi alfabetizada aos 16 anos, conseguiu se formar em história, aderiu à luta sindical, tornou-se a senadora mais jovem da história da República e respeitada internacionalmente como ministra do Meio Ambiente. Sobreviveu não só às dificuldades da vida como também a várias doenças. Chegou ao poder, mas não permitiu que seus sonhos fossem revistos. Como candidata a presidente da República, Marina continua uma incansável combatente pela ética, pela transparência e pela defesa de tudo o que chama de “princípios”. “Pelo seu perfil e postura, Marina é a única em condições de pensar o impensável”, diz o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos colaboradores da campanha do PV.
Idealista por convicção, mantenedora de utopias, como gosta de repetir, Marina tem corrido o País apresentando propostas que fazem parte do imaginário de todos os eleitores. São plataformas impossíveis de refutar, como a bandeira do desenvolvimento sustentável, que cada vez mais ganha adeptos e encanta os mais jovens. A candidata do PV em 2010 lembra as candidaturas do PT no início da década de 80. Boas ideias e boas intenções não faltam a Marina, que não se coloca nem à direita nem à esquerda dos demais candidatos. “Estou à frente”, diz.
O problema é que, na hora de explicar como realizar tudo o que Marina sonha para o Brasil e para o mundo, a realidade de um planeta cada vez mais competitivo e de um país com pressa para crescer atropela os seus sonhos. Marina é, por exemplo, uma obstinada defensora da energia limpa. Condena o impacto ambiental da construção da hidrelétrica de Belo Monte, pelo governo Lula, mas não dá alternativas concretas para suprir o abastecimento energético, hoje um dos gargalos da economia brasileira.
A sra. teve uma infância duríssima e um histórico de doenças, com cinco malárias, três hepatites, uma leishmaniose e ainda contaminação por mercúrio. Como está sua saúde hoje?
Graças a Deus está muito bem. Tenho saúde para ser presidente da República. De fato, enfrentei vários problemas na minha vida. Hoje estou bem, graças a Deus e a tantos médicos e à ciência que me ajudou. Eu inclusive tenho uma gratidão enorme pelo Estado de São Paulo. Todas as vezes que os médicos diziam que não tinha jeito para mim, na minha inocência, mas também por intuição, eu pensava: “São Paulo tem médico bom que vai me ajudar.” Quando, aos 19 anos, um médico previu minha morte, eu, uma menina ainda muito tímida, falei que queria sair do hospital. Assinei os documentos e vim para São Paulo, para o Hospital São Camilo.
Como o presidente Lula a sra. teve uma origem humilde, mas, diferentemente dele, sempre estudou, buscou se aprimorar. Como a sra. compara estas situações?
São trajetórias diferentes, com oportunidades diferentes e que não podem ser comparadas. É assim mesmo: os seres humanos são diferentes e únicos no mundo. A vantagem do presidente Lula é que ele é uma pessoa fenomenal ou não estaria onde está. Como lideranças, a gente tem que manejar o tempo todo essa coisa do exemplo que está passando para as pessoas…
PSDB quer definir vice em uma semana
O PSDB espera que o pré-candidato José Serra invista no processo de definição da escolha do vice até a semana que vem. A expectativa é ir para a convenção do partido, no dia 12, já com um nome definido. Uma reunião com os líderes dos principais partidos aliados – DEM e PPS – está marcada para discutir a composição política da aliança com o PSDB, passado o feriado de Corpus Christi. Ontem, a cúpula tucana se reuniu por pelo menos três horas, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, para tratar do assunto e pedir "brevidade" na decisão.
Durante o encontro, tucanos defenderam mais "descentralização" e "discussão" sobre decisões cruciais da campanha. Também falaram sobre os palanques estaduais e decidiram ser necessário mais empenho em alguns Estados, como o Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do País, onde Dilma Rousseff (PT) abriu 17 pontos de vantagem, segundo o Ibope. Diante das negativas de Aécio sobre aceitar a candidatura a vice, aumentou no partido a ideia de que o cargo deve ser dado para o DEM. O nome do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) está em discussão, assim como o do senador José Agripino Maia (DEM-RN). Como o senador tem uma reeleição praticamente certa, tucanos ponderam que seria ruim perder a cadeira para adversários e que o melhor talvez fosse mantê-lo no Senado.
Romário: "Se o Brasil perder, porrada no Dunga!"
Aposentado dos gramados há dois anos, Romário, o artilheiro dos mil gols e grande responsável pela conquista da Copa de 1994, vai jogar agora no campo da política. Candidato a deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSB, Romário Faria de Souza, 44 anos, quer provar que também é bom de voto. Pretende focar seu trabalho em projetos para jovens carentes e para crianças com necessidades especiais.
Ele tem seis filhos de quatro relacionamentos, entre eles Ivy, 5 anos, portadora de síndrome de Down, do atual casamento com Isabella Bittencourt. Apesar de ter acumulado fortuna em sua carreira, no ano passado Romário enfrentou problemas financeiros que lhe custaram uma noite na delegacia por falta de pagamento da pensão alimentícia dos filhos do primeiro casamento, com Mônica Santoro. A luxuosa cobertura em que vivia, na Barra da Tijuca, foi leiloada por R$ 8 milhões pela Justiça para pagamento de dívidas.
O que o levou a ingressar na política?
Fui convidado a entrar na política há oito anos, mas sempre me esquivei por achar que não é minha área. Sou um cara de comunidade – na minha época, a gente chamava de favela mesmo. Vim do Jacarezinho (favela carioca), passei necessidade. Agora que definitivamente não jogo mais futebol, não quero ser treinador e ser dirigente do América não vai contra eu ser político. Cheguei à conclusão de que essa era a minha hora. O Brasil atravessa um momento legal para o esporte. A próxima Copa do Mundo será aqui e o Rio de Janeiro vai sediar a Olimpíada daqui a seis anos. Então, acredito que, através do esporte, eu possa ajudar os mais jovens, principalmente os das comunidades. Tirar essas crianças desse mundo – vamos chamar de errado – que a gente vê. Cada dia cresce mais esse negócio de crack, muita droga. As crianças saindo do colégio para virar fogueteiro de tráfico. Através do esporte, quero mudar isso.
Por que escolheu o PSB?
Acho o PSB um partido muito simpático. Tem essa coisa do social, já milita nisso, tem experiência nessa área. Passei para o presidente do partido (deputado federal Alexandre Cardoso) algumas vontades minhas, que seriam os meus objetivos, o que eu quero abraçar, as causas, e ele me apoiou 100%. Daí a escolha pelo PSB.
E a Copa? O que acha da Seleção Brasileira?
Como torcedor, só podemos torcer. Rezar bastante, cada qual na sua religião, para que o Brasil ganhe. Mas essa não é a Seleção ideal para mim. Gostaria que tivesse o Ganso (meia do Santos), principalmente pelo fato de o Kaká não estar bem. Mas não podemos esquecer que o Ganso nunca vestiu a camisa da Seleção Brasileira e não sabemos como seria. Acho que o Adriano deixou fugir a oportunidade de disputar a Copa. Acredito que se ele não tivesse feito algumas coisas, principalmente fora de campo, poderia ir. Agora, só posso desejar ao Dunga boa sorte, que ele confie na sua ideia e vá até o final. Se ganhar, será mais um título. Se o Brasil perder, porrada no Dunga! (risos). Ele “tá ligado”. Não “tô” dizendo que é o Romário que vai dar porrada. É o Brasil
Fonte: Revistas da semana