ECONOMIA

Para empresários, crise é de confiança, mas governo precisa agir

Embora considerem grave a crise econômica, que ganha cada vez mais corpo nos Estados Unidos e na Europa, empresários brasileiros não estão intimidados com os efeitos que o Brasil possa sofrer. Para eles, a crise é de confiança e ainda não chegou à economia real. Ao mesmo tempo, executivos de empresas médias e grandes, ouvidos pelo Valor, pedem atenção ao governo e cobram medidas para que o país não fique muito vulnerável. As sugestões são conhecidas: redução dos juros, corte de impostos e cuidados com o câmbio excessivamente valorizado.

Wilson Brumer, presidente da Usiminas, é o primeiro a defender a queda imediata da Selic. Para ele, a dose foi alta demais com os cinco aumentos seguidos da taxa básica de juros. "Antes de pensar em medidas só para elevar o consumo, o país teria de focar em medidas para elevar os investimentos internos, pois tornou-se muito caro fazer investimentos aqui", reclama. Brumer diz que o Brasil está menos vulnerável do que no passado, e que a crise é muito mais de confiança nas lideranças das principais economias.

Na opinião de Luiz Antônio Ferraz, presidente da Paranapanema, fabricante de produtos de cobre, caso a crise se abata sobre o Brasil o governo deve retomar mecanismos de desoneração fiscal. Ele mencionou setores cujos produtos têm "gordura tributária elevada": carros, geladeiras, fogões, materiais de construção.

Os planos para a instalação da nova fábrica da Fiat em Pernambuco não serão influenciados pelos ventos externos, garantiu o presidente para a América Latina da montadora, Cleodorvino Belini. "As crises não afetam nossos investimentos por uma razão simples: elas são passageiras, e nós estamos falando de investimentos de longo prazo, para 2014", disse Belini, que destacou a atuação do governo brasileiro. "Nosso país tem um potencial de mercado interno muito grande, e o governo está justamente orientando, fortalecendo esse mercado para não sofrer os reflexos dessa crise externa."

Na mesma linha, o CEO da unidade brasileira da montadora chinesa Chery, Luis Curi, informou que o cronograma de investimentos de US$ 400 milhões na construção de uma fábrica de automóveis em Jacareí, no interior de São Paulo, não sofrerá alterações. O que mais o preocupa são os "efeitos psicológicos" que podem ser criados com os desdobramentos negativos da turbulência econômica nos países desenvolvidos. "Tanta notícia negativa gera efeitos psicológicos, que podem levar o consumidor interno a começar a se resguardar", avalia Curi.

O diretor corporativo de relações com investidores do grupo Randon, Astor Schmitt, é mais pessimista. "Ainda não temos diagnóstico claro da situação", disse o executivo da fabricante de implementos rodoviários, peças, vagões ferroviários e veículos especiais com sede em Caxias do Sul (RS).

Schmitt disse ter ficado "um pouco chocado" com o comportamento dos mercados nos últimos dias. Mesmo assim, ele tem expectativa que o Plano Brasil Maior, lançado há poucos dias pelo governo federal, possa atenuar eventuais impactos da crise no mercado doméstico. No entanto, avalia, a forte oscilação da bolsa nos últimos dias deve-se mais a um comportamento "emocional" dos investidores do que a uma análise dos fundamentos das companhias brasileiras.

Jarbas Castro, presidente da Opto Eletrônica, fabricante de equipamentos óticos e médicos localizada em São Carlos (SP), diz que a previsão de faturamento de R$ 100 milhões em 2011 está mantida. O executivo confia na classe C para sustentar seu negócio. "Podemos ter uma dificuldade nas exportações, porque o mercado externo pode cair. Mas estamos ancorados na nova classe C, que antes estava só preocupada em sobreviver, mas agora quer consumir muito, inclusive saúde, que é o nosso nicho."

Valdemir Dantas, presidente da Latina Eletrodomésticos, acredita que, apesar do nervosismo no mercado em razão da crise, haverá pouco impacto na economia real do país. "O crédito ao consumidor final, importante para os produtos da Latina, não deve ser afetado e isso deve propiciar maior volume de vendas este ano." Entre os produtos da fabricante de eletrodomésticos estão purificadores de água, lavadoras de roupa, bebedouros e ventiladores de teto
Fonte;FIEMT

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