Manifestantes fazem ato em SP por vítimas da chacina no Rio e por Genivaldo

Integrantes do movimento negro ocuparam a frente da sede Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na zona norte da cidade de São Paulo, na manhã desta sexta-feira (27) em protesto contra mortes provocadas por agentes da corporação. Durante operação policial na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, que deixou pelo menos 23 mortos, e de Genivaldo de Jesus Santos, morto por asfixia após ser trancado no porta-malas de uma viatura da PFR em Umbaúba, no sul de Sergipe.
Com faixas destacando “PRF mata” e “o povo negro quer respirar”, os movimentos cobraram o “fim do compromisso do Estado brasileiro com o genocídio preto”. O ato foi convocado nessa quinta (26) pela Uneafro Brasil, diante da repercussão nacional do ato cruel protagonizado por agentes da corporação um dia antes contra Genivaldo, homem negro, de 38 anos, diagnosticado com esquizofrenia. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que ele foi algemado, imobilizado e trancado no porta-malas de uma viatura da PRF que foi transformada em uma câmara de gás após os policiais detonarem dentro uma bomba de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Mesmo com Genivaldo se debatendo dentro do veículo e as pessoas avisando que ele estava morrendo, a ação seguiu. O motociclista foi levado pela polícia desacordado para o Hospital José Nailson Moura, que constatou a morte. Segundo o Instituto Médico Legal (IML), ele morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda por ter aspirado o gás. “A Polícia Rodoviária Federal virou SS, virou Gestapo?”, questionou o historiador e ativista Douglas Belchior, coordenador da Uneafro Brasil, em referência à polícia da Alemanha nazista e seus métodos de extermínio.
O ato também cobrou justiça às vítimas da chacina policial deflagrada na última terça (24) na Vila Cruzeiro, zona norte da capital fluminense. A pretexto de impedir uma suposta migração de criminosos para a Rocinha, comunidade da zona sul do Rio, agentes da PFR e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram responsáveis pela segunda operação mais letal da história do estado, com ao menos 23 mortos, segundo a Polícia Civil. Ao todo, 28 vítimas do massacre foram encaminhadas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas.
A operação também tem indícios de execuções com denúncias de mortos a facadas e casas de moradores invadidas por policiais durante o tiroteio que durou 12 horas. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, ontem, a especialista em segurança pública Jacqueline Muniz contestou a participação da PRF na operação.
Cientista política, antropóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline destaca que a Polícia Rodoviária Federal “não tem tradição como corpo tático ou competência tática acumulada para ação em cenários instáveis”.
De acordo com a especialista, a corporação participou “porque está todo mundo disputando orçamento, poder e autonomia. É ingerência de menos, autonomia e descontrole demais nas mãos de setores policiais, sabotando a perspectiva de segurança pública”.
Conforme a Coalizão Negra por Direitos, os dois casos foram denunciados à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA).
RBA