Contas a pagar e descrédito explicam baixa adesão à greve geral em Rondonópolis

Comerciantes ouvidos pela reportagem do Regional MT sob a condição de anonimato criticaram a greve geral convocada por radicais de direita que pedem uma intervenção militar, para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O movimento paredista teve pouca adesão na cidade, apesar da alta votação do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos dois turnos da eleição presidencial.
A desmobilização tem dois fatores principais. Os comerciantes alegam que a paralisação representaria um prejuízo grande em um momento que os orçamentos já estão apertados por causa da inflação. Muitos também apontaram um descrença geral nas lideranças que têm estimulado os atos democráticos no país.
“Isso não tem nada a ver com Bolsonaro, tanto é assim que nem ele nem os filhos dele estão participando. Aliás, o próprio presidente já gravou vídeo pedindo para parar com isso”, ponderou um comerciante. “Além disso temos contas a pagar. Se a gente para, quem vai bancar os salários, os boletos e os compromissos que temos com nossos fornecedores?”, indagou um comerciante.
Pelo menos dois comerciantes ouvidos pela reportagem afirmaram que receberam ligações na última sexta-feira (05) de grandes empresários ligados ao agronegócio. Eles cobravam adesão ao movimento grevista.
“Eles disseram que se a gente abrisse poderia ficar mal e comprometer negócios futuros. Eu expliquei que votei e apoiei o presidente, mas que não tinha como fechar as portas por um negócio que não vai dar em nada”, disse um dos entrevistados.
Um outro lojista que também foi pressionado, explicou que não acha correto a tentativa de dividir a cidade por causa do resultado da eleição.
“Também tenho clientes que votaram no Lula e penso que todos merecem respeito. A eleição acabou e não tem prova de fraude. Misturar isso com negócio e prejudicar a convivência na cidade é loucura”, afirma.
Os comerciantes ouvidos pediram sigilo sobre suas identidades por medo de sofrerem retaliações.
CDL
A reportagem apurou que tem havido também pressões para que entidades representativas do empresariado apoiem abertamente os atos antidemocráticos. No entanto, até aqui, as instituições têm afirmado que não vão se envolver.
Em Rondonópolis a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-ROO) divulgou uma postagem (veja abaixo) informando que seu estatuto prevê a atuação voltada para a defesa dos interesses do comércio em geral e não dá respaldo para manifestações de ‘questões políticas que não envolvam, diretamente, o funcionamento do comércio’.
Na mesma postagem a entidade esclarece que a decisão de paralisar o comércio é uma escolha individual de cada associado.
O posicionamento é idêntico ao assumido pela CDL de Cuiabá, que divulgou uma nota explicando porque se manterá distante dos protestos.
“A CDL Cuiabá respeita a individualidade e o direito de cada cidadão em manifestar-se de forma civilizada, contra aquilo que não concorda e até mesmo fechar seu estabelecimento, assumindo a responsabilidade por seus atos. Por outro lado, respeita também o direito de quem não queira se manifestar, mantendo sua empresa em funcionamento. Entendemos que a liberdade e autonomia de cada empresário em decidir o que fazer deve ser respeitada”, diz o comunicado.
Eduardo Ramos – Da Redação