Tudo como dantes no quartel de Abrantes

Que o Estado perdeu o controle diante das chamadas facções criminosas, isso está mais do que claro. Prova disso é o crescimento exponencial dessas organizações, não apenas em termos de poder criminoso, mas também político e financeiro.
Muito disso se deve à forma como o Estado tem atuado no combate ao problema. Primeiro, é preciso deixar claro que defendemos, sim, a chamada “mão forte” do Estado e o combate firme ao crime — mesmo que seja necessário o uso da força máxima.
No entanto, quando se trata das facções, o buraco é bem mais embaixo. Não é invadindo uma favela e saindo por aí matando ou prendendo todo mundo que o problema será resolvido. Esse tipo de ação, como já dissemos, é importante, mas não é — e nem será — o fator preponderante para solucionar a questão ou simplesmente exterminar as facções do mapa do Brasil.
É necessário combater outro ponto, talvez ainda mais eficaz: o dinheiro das facções. Essas organizações se transformaram em verdadeiras corporações de alta lucratividade, com recursos chegando de forma ilegal em diversas frentes. Enquanto o crime continuar sendo um negócio lucrativo, pouco ou nada importará para seus líderes as mortes de criminosos, inocentes ou agentes do Estado — pois eles continuarão ricos e fortalecidos.
É preciso, portanto, buscar mecanismos que realmente impeçam o acesso das facções ao dinheiro. Está mais do que claro que a lucratividade do negócio é o que sustenta o poder dessas organizações.
Com esses recursos, as facções conseguem, por exemplo, eleger legisladores que acabam defendendo leis que facilitam a vida do crime, em vez de dificultá-la.
Não se pode fechar os olhos para o fato de que as facções não estão apenas nas favelas. Elas foram muito além — já alcançaram os mais altos setores da sociedade e frequentam os grandes salões sociais. O domínio nas periferias é apenas uma fração do tamanho que essas organizações atingiram. Hoje, elas estão presentes em praticamente todos os setores da sociedade.
É urgente uma grande mudança na legislação, para que as facções e seus líderes sejam realmente punidos de forma mais severa do que ocorre hoje. Caso contrário, tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.
Fonte: Da Redação




