Perspectivas para a safra 09/10

Como se não bastasse o cenário de incertezas que paira sobre o segmento rural mato-grossense em pleno planejamento de safra, os sojicultores estaduais já têm pelo menos uma nada animadora constatação: a de que terão de providenciar mais recursos próprios para custear a safra 09/10. As estimativas revelam que o desembolso poderá ficar 11% acima do que foi necessário na temporada anterior. Dos cerca de R$ 7 bilhões necessários à sojicultura, cerca de R$ 3 bilhões terão de vir de capital próprio. Comparando às demandas da safra 09/08, quando o aplicado foi de R$ 2,7 bilhões, o percentual aumenta a insegurança dos produtores, já que o custo total da safra não deverá apresentar incremento em relação ao ano passado.
Na temporada 07/08 de soja os recursos próprios somaram cerca de R$ 700 milhões, volume que se comparado aos R$ 7 bilhões atuais, revela que a necessidade de capital do produtor aumentou cerca de 350% (para R$ 3 bi). A equação, que obriga a uma maior participação do produtor, vai à contramão do que o mercado oferta no momento, menos crédito oficial e menor crédito via as multinacionais, as tradings. O primeiro revela que devido ao alto poder de endividamento do produtor, os bancos estarão mais criteriosos na aprovação dos financiamentos. Já segundo gargalo financeiro reflete ainda os impactos deixados pela crise mundial que racionou a quantidade de dinheiro que as tradings poderiam tomar no exterior para repassar aos produtores.
Segundo entidades defensoras do agronegócio, as tradings no Estado financiam cerca de 60% da safra. Como aponta a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), e senadora, Kátia Abreu, “há informações de que até o momento, a oferta de recursos pelas tradings, de modo geral, para a nova safra nacional (09/10), estão 30% menores, o que reflete as dificuldades em captar recursos externos neste período de pós-crise mundial que aumenta o risco para todos os lados”.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, adverte que o cenário de incertezas após a eclosão da crise financeira mundial está tirando o sono dos produtores mato-grossenses em pleno momento em que eles já começam a planejar a próxima safra. “O futuro realmente é uma incógnita para nós e estamos bastante preocupados”.
Segundo ele, falta de crédito, precária infra-estrutura logística e elevados custos de produção são os principais entraves para o setor nesta safra. “Não dá para fazer qualquer previsão, sequer temos uma sinalização de crédito por parte dos bancos. Tudo indica que o produtor terá de desembolsar R$ 3 bilhões e emprestar a diferença (R$ 4 bilhões). O problema é que ele tem muita conta para pagar e não sabemos como esta equação irá fechar”, pontua.
Ele estima que a dívida global dos produtores mato-grossenses esteja hoje em torno de R$ 10 bilhões, incluindo o FAT Giro, FCO, Pesa, securitização e outras operações rurais. Silveira informou que o prazo para pagamento de mais uma parcela desta dívida está vencendo no próximo dia 15. “Os produtores estão com dificuldades, mas, acredito que a maioria vai pagar porque o valor corresponde a apenas 10% da parcela do ano passado”.
PLANEJAMENTO – Na opinião do analista Cláudio Marques Júnior, o produtor tem de fazer as contas para ver se terá estrutura de custos e boa produtividade para o próximo ano. O produtor deve amenizar o impacto dos custos sem abrir mão da tecnologia de plantio. “Temos de reduzir custos. Esta é uma decisão que deve ser tomada individualmente”. O produtor tem de saber que as despesas com insumos (adubos, defensivos e sementes) representam 56% dos custos totais de uma lavoura de soja. Os 46% restantes referem-se aos custos operacionais (combustíveis, transporte, armazenagem, mão-de-obra e máquinas). “Estes são pouco financiáveis e o pagamento, geralmente, se dá à vista. O produtor tem que ser eficiente e saber negociar se quiser reduzir seus custos. E isto tem que ser feito individualmente”.
MARCONDES MACIEL/MARIANNA PERES/Diário de Cuiabá