A volta da propaganda partidária

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Aprovada pelo Senado Federal na última semana, a proposta que prevê o adiamento das eleições municipais entrou agora na pauta da Câmara dos Deputados. Num primeiro avanço, a proposta definiu os dias 15 de novembro e 29 de novembro em caso de dois turnos.

 

Mas acontece que agora o assunto transita numa outra esfera, onde os parlamentares do chamado “Centrão” cobram o famoso toma-lá-dá-cá do governo federal. Entre as exigências, o retorno da propaganda partidária.

 

Muito além disso. Em primeiro lugar, o bloco busca a liberação de R$ 5 bilhões dos cofres do Tesouro Nacional aos prefeitos por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Estes estariam cambaleantes em meio a pandemia do novo coronavírus, afetados pela crise na saúde.

 

Mas o que mais chama a atenção é a proposta de ampliação da chamada propaganda partidária. Afinal, numa campanha de prazo muito enxuto, eis que surge a oportunidade para se discutir o processo democrático num sentido amplo.

 

Se considerarmos que 45 dias são um prazo exíguo para que os candidatos possam apresentar suas plataformas, bandeiras, propostas e ainda cativar o público, com mais 43 dias, isto claro, caso a proposta se confirme na Câmara dos Deputados, proporcionará mais tempo de bola rolando.

 

O marketing digital estará ainda mais presente, em tempo de distanciamento. Lembrando que o prazo pré-eleitoral é o momento mais oportuno para estabelecer suas conexões.

 

Em que pese um fator fundamental que precisa ser colocado na balança para a justeza do processo eleitoral – no sentido de proporcionar condições equânimes de acesso às plataformas, propostas e projetos -, devemos considerar a proposta do “Centrão” nem de toda ruim.

 

Embora amplie os gastos em aproximadamente R$ 400 milhões ao mês num momento em que os recursos estão sendo canalizados para o enfrentamento da Covid-19, a ampliação da propaganda na TV e no rádio sofre resistências.

 

Mas, se considerarmos a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada em abril deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fica patente a necessidade de revisão nesse sentido.

 

O levantamento revela que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Em áreas rurais, o índice é ainda maior; chega a 53,5%.

 

Em contrapartida, segundo o Ibope, cerca de 97% dos domicílios do País possuem pelo menos um aparelho televisor. São aproximadamente 71 milhões de imóveis residenciais. Há estimativa, todavia, de que mais de 91% dos brasileiros escutem rádio.

 

Portanto, a denominada mídia tradicional segue hegemônica. Quanto mais acesso à informação, mais democrático é o processo. Mas, calma. Não se engane.

 

Está será, sem sombra de dúvidas e de qualquer maneira, a eleição mais digital de todos os tempos. E a reputação será construída ou destruída na velocidade do pensamento, com um simples toque na tela. 

 

Hugo Fernandes é jornalista.