Afinal de contas, o que é o agronegócio?

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Em meio a números, estatísticas e discussões, muitas delas repletas de teor político, praticamente não restam dúvidas sobre a força do agronegócio na economia e na sociedade de Mato Grosso. Um estado que se destaca nos cenários nacional e internacional como produtor e exportador de produtos de origem vegetal e animal.  

Ainda assim, há uma pergunta aparentemente simples, mas crucial, que merece nossa atenção: afinal de contas, o que é o agronegócio? Como professor da disciplina “Gestão do Agronegócio”, essa é uma das minhas perguntas aos estudantes no primeiro dia de aula. Pergunto o que lhes vem à mente quando ouvem a palavra ‘agronegócio’. A resposta é quase sempre a mesma: “O que vem à minha mente é uma grande área produtora de grãos ou de gado”. E para você que lê este artigo, qual imagem que vem à sua mente ao pensar sobre o agronegócio?  

Te convido a uma curta, porém intensa caminhada teórica sobre esse termo tão falado. Ao final da leitura deste artigo, eu espero ter contribuído para promover em você uma compreensão mais ampla e agregadora sobre o agronegócio, ao invés da visão restrita e conflituosa que existe no senso comum de tantas pessoas.

Esse é um tema antigo, que vem sendo estudado, pelo menos, desde a primeira metade do século passado.  Pesquisadores dos Estados Unidos e da França estavam incomodados com a visão isolada que a produção agropecuária possuía. A agropecuária era vista como um segmento separado dos demais segmentos da economia. E isso parecia não fazer sentido para esses pesquisadores. Então, motivados pela ideia de sistema, que é um conjunto de partes que estão conectadas para produzir algo, os pesquisadores Davis e Goldberg, da Universidade de Harvard, propuseram a primeira definição do termo agronegócio (agribusiness, em inglês), em 1957:

 “Agronegócio é a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”.

Quando eu vejo essa definição e a comparo com a resposta típica dos meus alunos, que dizem: “O que vem à minha mente é uma grande área produtora de grãos ou de gado”, sinto que hoje, 67 anos depois, ainda persiste uma ideia restrita e isolada da agropecuária e um desconhecimento sobre o tão falado agronegócio. Por isso, quero aqui enfatizar três lições que devemos levar conosco. 

Lição número um. A produção agropecuária não é o agronegócio. Por isso, aquelas imagens que vêm à mente da maioria das pessoas ao pensar sobre o agronegócio é uma interpretação limitada. A produção vegetal e animal é, de fato, o ponto central do agronegócio. Porém, ela compõe um dos segmentos de um grande sistema, no qual outros segmentos estão conectados e são fundamentais para fazer chegar ao consumidor final os produtos de origem animal e vegetal. É disso que surge a noção de cadeia produtiva agroindustrial. Ou seja, uma sequência de segmentos interconectados, como os elos de uma corrente. Um elo sozinho não é uma corrente. Da mesma forma, a agropecuária sozinha não é o agronegócio. 

Agora volte lá na definição de Davis e Goldberg, por favor, e veja se eles mencionaram algo sobre o tamanho das unidades de produção agropecuária. Não, né?! Pois é, aqui vem a lição número 2. O agronegócio não tem relação com o tamanho da unidade de produção. Seja a unidade pequena, média ou grande, seja ela do segmento de insumos, agropecuário, de agroindustrialização ou de distribuição, o que importa é o foco em um bem ou serviço de origem animal ou vegetal. Então, a divisão sugerida entre a agricultura familiar e o agronegócio é uma pseudo-dicotomia, em outras palavras, é uma falsa divisão em duas partes “antagônicas”, se pensarmos do ponto de vista do conceito e da lógica de sistema agroindustrial.

Por fim, a lição número três. Estar dentro do agronegócio, como parte integrante desse complexo sistema agroindustrial, não quer dizer que unidades pequenas, médias e grandes devam ser vistas como “iguais”. Cada uma demanda um olhar especialmente conectado às suas necessidades que precisarão ser atendidas para fazer com que elas, independentemente do tamanho, possam atuar de maneira profissional, sustentável e lucrativa, tendo como objetivo final atender aos anseios e desejos dos consumidores de produtos e serviços de origem vegetal e animal. 

Mais do que “somente” três lições teóricas, entender (i) que a produção agropecuária não é o agronegócio, (ii) que o agronegócio não tem relação com o tamanho da unidade de produção e (iii) que unidades de tamanhos diferentes não podem ser vistas como iguais, nos conduz em direção a uma perspectiva de conexão, integração e união, em torno do agronegócio, que muito mais do que uma palavra a ser definida, é motivo de orgulho para Mato Grosso, no Brasil e no mundo. 

Lucas Oliveira de Sousa é PhD em Ciências Agrícolas pela Universität Hohenheim e professor da Faculdade de Agronomia e Zootecnia da UFMT.