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terça-feira, abril 30, 2024

Justiça abre processo contra fundador da Igreja Universal

O fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, e mais nove pessoas ligadas a ele, foram acusados pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia.

Os promotores afirmam que há mais de dez anos Edir Macedo e os outros acusados desviam o dinheiro das doações dos fiéis. Com a ajuda de laranjas e falsificação de documentos, usam os recursos para a compra de empresas.

Foram dois anos de investigação. O Ministério Público e a Justiça entenderam que em vez de usar as doações de fiéis em obras de caridade e na manutenção de templos, os dirigentes da igreja usaram o dinheiro para comprar empresas e que Edir Macedo visava lucro.

O juiz Glaucio de Araujo, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, abriu ação criminal contra o fundador da Igreja Universal e contra mais nove pessoas ligadas a ele.

A acusação contra o fundador da Igreja Universal e mais nove pessoas é de apropriação ilegal de dízimos e de ofertas de fiéis. E uso do dinheiro das doações para construir um patrimônio pessoal. Os promotores afirmam que a atuação da quadrilha não conheceu limites. Utilizaram da Igreja Universal do Reino de Deus para a prática de fraudes em detrimento da própria igreja e de inúmeros fiéis.

Pedir doações não é ilegal. Qualquer igreja, independentemente da religião, arrecada dinheiro para desenvolver trabalhos sociais importantes. Por isso mesmo, elas não pagam impostos. Mas segundo a denúncia , Edir Macedo, e os outros nove acusados se apropriaram do dinheiro da Igreja Universal.

A acusação apresentou exemplos de fiéis que se sentiram enganados e recorreram à Justiça para tentar recuperar o dinheiro. Glaucio Verdi realizou doações substanciais à igreja e presenciou pastores afirmando que somente através de doações os fiéis seriam abençoados.

A Edson Luiz de Melo, portador de enfermidade mental, eram feitas promessas em troca de doações financeiras e dízimo. Teria sido vendida a Edson Luiz, por exemplo, a chave do céu.

Para a promotoria, ficou comprovado que, no caso da Universal, os denunciados se aproveitaram da imunidade tributária concedida pela Constituição a templos de qualquer culto, para captar dízimos, ofertas e contribuições e fizeram investimentos em bens particulares.

Com base em informações de órgãos federais, os promotores afirmam que a Igreja Universal do Reino de Deus arrecada aproximadamente R$ 1,4 bilhão por ano. Em sete anos – entre 2001 e 2008 – a igreja conseguiu cerca de R$ 8 bilhões. Parte desse dinheiro, segundo a promotoria, foi para duas empresas de fachada, a Cremo e a Unimetro Empreendimentos, que têm sede em São Paulo.

Elas estão registradas como empresas de compra e venda de imóveis e, de acordo com a investigação, foram usadas pelos denunciados para esconder a verdadeira origem dos recursos.

Os promotores descreveram assim a lavagem do dinheiro: as doações eram repassadas para a Unimetro e para a Cremo que, por sua vez, mandavam para duas empresas fora do Brasil – a Investholding e a Cableinvest. Elas têm sedes em paraísos fiscais e, segundo a denúncia, também são controladas pelo grupo acusado. O dinheiro voltava ao Brasil na forma de empréstimos a pessoas físicas, ligadas a Edir Macedo.

Foi com empréstimos da Investholding e da Cableinvest que, de acordo com os promotores, pessoas ligadas a Edir Macedo compraram a TV Record do Rio de Janeiro por US$ 20 milhões, em 1992. Segundo o Ministério Público, o esquema também foi empregado para dissimular a origem do dinheiro na aquisição da TV Record de Itajaí, em Santa Catarina.

Um dos acionistas da televisão declarou aos promotores que a compra foi feita com dinheiro de fiéis. A denúncia afirma que a quadrilha era liderada por Edir Macedo, que comandava de fato todas as ações praticadas pela organização.

Segundo os promotores, abaixo de Edir Macedo na organização da quadrilha, estão: Honorilton Gonçalves, hoje vice-presidente da TV Record; João Batista Ramos da Silva, integrante da igreja e ex-deputado federal; Jerônimo Alves Ferreira, executivo do Grupo Record; Alba Maria da Costa, diretora de finanças da Rede Record e outros diretores e ex-diretores de empresas ligadas ao grupo Universal: Osvaldo Sciorilli, Edilson da Conceição Gonzáles, Veríssimo de Jesus, João Luis Dutra Leite, Mauricio Albuquerque e Silva. Todos, denunciados por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Na denúncia, foi anexada uma gravação de Edir Macedo, divulgada em 1995. No intervalo de uma partida de futebol, em Salvador, ele ensina pastores a pedir dinheiro aos fiéis: “Você tem que chegar e se impôr. ‘Pessoal, você vai ajudar agora na obra de Deus. Se você quiser ajudar, bem, se você não quiser ajudar, Deus vai me dar outra pessoa pra ajudar. Amém’. Entendeu como é? Se quiser ajudar, bem, se não quiser, que se dane! Entendeu como é? Não pode ter vergonha, timidez. Peça, peça, peça. Se tem um que não dê, vai ter um montão que vai dar”.

O advogado dos réus diz que as denúncias são recorrentes.

“A acusação é de esses recursos são obtidos de fiéis, que são encaminhados para o exterior e que do exterior eles retornam sob forma de empréstimo e que aí haveria uma lavagem de dinheiro. Esse fato é recorrente, esse fato é recorrente. A minha defesa é a mesma desde 1994, ou seja, que há absoluta regularidade com relação a isso. Eu repito: o Supremo Tribunal Federal já decidiu concretamente sobre esse fato com o arquivamento do inquérito”, aponta o advogado dos réus Arthur Lavigne.

Jornais de São Paulo trouxeram outras denúncias hoje. O jornal “O estado de São Paulo” afirma que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) encontrou operações atípicas envolvendo integrantes da Igreja Universal em cinco países.

Já a edição da “Folha de São Paulo” diz que a Justiça quer a cooperação internacional para investigar as denúncias contra os líderes da Igreja Universal.

O advogado dos acusados vê contradição na atuação de dois órgãos do Ministério da Fazenda: o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que encontrou movimentações suspeitas, e a Receita Federal, que teria considerado legal a compra das emissoras de TV.

O juiz da aceitou a denúncia contra Edir Macedo e mais nove acusados sem qualquer ressalva. Ele mandou indicar os réus e deu dez dias de prazo para os advogados apresentarem a defesa.

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